Torcedora Gremista pede desculpas por ofensas racista ao goleiro Aranha
No dia seguinte ao depoimento à polícia, a torcedora Patrícia Moreira, flagrada por câmeras de televisão gritando “macaco” ao goleiro Aranha no jogo entre Grêmio e Santos na Arena, pela Copa do Brasil, falou à imprensa. Foi a primeira manifestação oficial dela após o episódio. Acompanhada do advogado e chorando muito, a gremista fez um pronunciamento, mas não respondeu perguntas. Ela falou aos jornalistas na sala de um prédio no Centro de Porto Alegre na manhã desta sexta-feira.
Boa tarde, eu quero pedir desculpas para o goleiro Aranha, desculpa mesmo, perdão de coração. Não sou racista. Aquela palavra macaco não foi racismo da minha parte. Não teve intenção racista. Foi no calor do jogo, o Grêmio tava perdendo. O Grêmio é minha paixão. Minha paixão mesmo. Eu vivi sempre indo ao jogo do Grêmio. Sempre. Largava tudo pra ir no jogo do Grêmio. Peço desculpas pro Grêmio, pra nação tricolor, não queria nunca prejudicar o Grêmio. Eu amo o grêmio. Desculpas para o Aranha. Perdão, perdão, perdão mesmo – disse.
– Sem dúvida, a Patrícia já foi julgada socialmente. Independente de inquérito policial, de indiciamento ou não. Infelizmente, ela já está julgada – disse ele.
– Ela deseja muito esse encontro com ele. Ela quer pedir desculpa.
Alexandre foi na mesma linha da sua cliente e garantiu que os gritos de Patrícia não tiveram cunho racista:
– A Patrícia vai provar que a exposição dela não foi racista de forma verdadeira. Vocês viram quem foi a Patrícia. Ela tem se demonstrado muito abalada com essa situação toda. Ela perdeu todo o contexto da vida dela. A Patrícia, sendo a Patrícia, vai demonstrar que não houve racismo da parte dela. Macaco, no contexto dentro do jogo de futebol, não se tornou racista. Ainda mais com a intenção que ela teve. Ela (a expressão) se torna um xingamento dentro do futebol. Como inúmeras expressões dentro do futebol, a própria mãe dos árbitros vem sofrendo tanto historicamente. O termo macaco é só mais um xingamento no futebol.
– A Patrícia já sofreu ameaças. Só não vem sofrendo ameaças porque saiu de redes sociais, saiu da casa dela. A Patrícia perdeu a vida dela. Por isso não vem sofrendo ameaças, por não ser localizada. Acho que esse caso vai ser um marco pra efetivamente terminar com o racismo. Estaríamos sendo hipócritas se punirmos a Patrícia, tão somente ela, por esse ato.
Na delegacia, Patrícia já havia se explicado. Ao delegado, não negou as palavras, mas afirmou que a intenção não era ofender, que foi no embalo da torcida. A jovem chegou à delegacia por volta das 10h chorando muito, abraçada pelo irmão, e escondendo seu rosto das câmeras.
O delegado não descartou chamar Patrícia mais uma vez para outros esclarecimentos. O depoimento durou cerca de uma hora, e a gremista deixou a delegacia sem falar com a imprensa. Antes de entrar no carro, ela ainda ouviu gritos de “racista” de pessoas que a aguardavam do lado de fora da delegacia.
A polícia tem 30 dias para concluir o inquérito.
Fora de casa
As injúrias raciais proferidas por torcedores gremistas contra o goleiro tiveram outro desdobramento. Em julgamento na quarta-feira, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) decidiu, por unanimidade, excluir o Grêmio da Copa do Brasil. No primeiro duelo das oitavas de final, os paulistas bateram os gaúchos por 2 a 0. O jogo de volta já havia sido suspenso até o julgamento do caso no STJD.