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Casal transexual tem filho em Porto Alegre

01casal22Helena Freitas e Anderson Cunha tiveram uma reviravolta em suas vidas, há menos de uma semana, como todos os pais de primeira viagem. Gregório nasceu na última terça-feira (7) de manhã e transformou a vida do casal de Porto Alegre, que além dos desafios da gravidez enfrentou muito preconceito. Anderson e Helena são transexuais, e quem engravidou foi o pai.

O casal, que está junto há mais de dois anos, sempre pensou em ter filhos e logo mais subirão ao altar. Mas antes pretendem organizar a rotina com a chegada do bebê. “A gente se conheceu em um baile funk. Eu estava no banheiro e vi o Anderson no banheiro feminino e comentei: “Gente, tem um homem no banheiro feminino”. Ele, que na época ainda se apresentava como Andressa, falou que era menina. Conversamos, ele me perguntou se eu aceitava um drink e ficamos muito amigos. Depois, trocamos telefone, Facebook, e nos conhecemos melhor. Sempre reparei que ele me tratava de um jeito diferente do que tratava outras meninas. Sentia que tinha a intenção de ter alguma coisa comigo. Estamos juntos, felizes, há dois anos. Oficialmente ainda não somos casados, mas pretendemos nos casar. Em fevereiro, ele me pediu oficialmente e eu aceitei, mas ainda não temos data. Primeiro temos que nos estruturar e a atenção agora é toda pro bebê”, contou Helena para o jornal “Extra”.

Anderson foi demitido da lanchonete em que trabalhava assim que soube da gestação. Atualmente trabalha como gari em Porto Alegre. Lá, ele conseguiu licença-maternidade para cuidar de Gregório, e Helena, que trabalha como atendente de telemarketing, conseguiu a licença-paternidade. “Tive o apoio de todos no meu trabalho quando falei que ia ter um bebê. Lá todos me respeitam muito, uso só o meu nome social e todos me tratam muito bem. Com a notícia da gravidez, recebi o apoio dos meus colegas, das minhas supervisoras, da minha chefe. Todas deram presentes, deixaram fazer o chá de fraldas no salão do trabalho. Até queriam me dar uma licença-maternidade, mas não foi possível”, contou a mamãe.

01casal2Helena contou que, no início, parentes e amigos estranharam a relação. “Sofremos muito preconceito, mesmo. Desde o início. Amigos diziam que ela era lésbica, que gostava de mulher e não de travesti. As minhas amigas também não entendiam porque eu estava me relacionando com uma lésbica. Nunca respondemos. Eu sempre fui de ficar mais na minha. Um casal trans pode ser feliz e ter uma vida normal. Vi vários comentários falando que é só um homem e uma mulher que fizeram um filho. Não, é bem diferente. Meu objetivo é outro. Meu objetivo foi virar mulher, me tornar mulher e ser tratada como mulher. Sou mulher a todo momento, no trabalho, no ônibus, no mercado. É bem diferente dizer que eu sou um homem que teve um filho.”

Estudante de Letras, Helena teve que interromper a faculdade para dar atenção a gravidez de Anderson e, agora, a Gregório. Os outros sonhos podem esperar. Como todo casal de pais babões, os dois agora só querem saber de cuidar do bebê. E desejam que a história deles sirva de inspiração para outros casais que sofrem com dificuldades e preconceito.”Eu quero que sirva de exemplo, que todo casal que sofre o preconceito que a gente sofreu se realize, seja feliz. Foi a melhor coisa que me aconteceu. É muito lindo, ele é todo lindo. Eu tinha diversos objetivos: fazer cirurgia de mudança de sexo, ficar mais bonita, terminar meus estudos, mas interrompi por um bom motivo. E interromperia todas as vezes que fosse necessário. Não penso em mais nada. Acordo pra ele, durmo pra ele, limpo a casa pra ele. É a melhor coisa do mundo”, conta a mãe orgulhosa.

Apesar da felicidade, Helena não conseguiu registrar o filho com seu nome social. Embora tenha apresentado o documento de identidade com o nome como é conhecida, o funcionário não autorizou o registro como ela queria. “Eu apresentei meu documento, com todas as minhas informações. Tenho o direito de registrar meu filho com meu nome social, mas por ignorância o funcionário não soube lidar com isso. Fiz o processo com o nome de registro, porque não queria deixar meu filho sem ser registrado por muito tempo. Depois posso ver de brigar na Justiça, mas ainda não decidi o que vou fazer em relação a isso.”

Extra

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