Com dívida bilionária, “rei do algodão” tenta evitar recuperação em MT
Depois de praticamente uma década de otimismo e excesso de liquidez no CentroOeste, problemas financeiros começam a se tornar mais comuns e a afetar inclusive grandes produtores de grãos e fibras.
Na semana passada, como informou o Valor, a Justiça de Mato Grosso do Sul aceitou o pedido de recuperação judicial apresentado pelo Grupo Pinesso, considerado uma referência na área de algodão. Agora quem está na berlinda é a JPupin. Pressionada por dívidas superiores a R$ 1 bilhão, a empresa do produtor José Pupin, também forte no cultivo da pluma, contratou a KPMG para assessorá-la na reestruturação desse passivo.
Conforme apurou o Valor, José Pupin já decidiu colocar à venda praticamente metade de suas terras para saldar as dívidas.
São cerca de 50 mil hectares, distribuídos em fazendas localizadas em Mato Grosso, Estado que concentra quase todo os ativos do produtor. Com essa venda, ele pretende levantar ao menos R$ 700 milhões para reduzir o endividamento.
Mas o plano de reestruturação também considera o alongamento dos débitos com os credores. Pedir recuperação judicial, como decidiu fazer o grupo da família do produtor Gilson Pinesso, por ora, está fora de cogitação. Dono de fazendas que somam aproximadamente 100 mil hectares e abrigam lavouras de algodão, soja e milho, além de pecuária e reflorestamento, Pupin sempre foi considerado um produtor eficiente e conservador. Conforme fontes do segmento, há cinco anos ele tinha muita liquidez. Costumava comprar insumos e máquinas praticamente à vista, e as terras que adquiria, sempre com recursos gerados por suas próprias operações, costumavam ter de 2 mil a 5 mil hectares.
Há quatro anos, contudo, Pupin adotou uma estratégia mais agressiva de compra de fazendas e passou a usar recursos captados no mercado financeiro. Adquiriu quase de uma vez só 40 mil hectares. Entre os diversos financiamentos que contratou para pagar essas aquisições está um de US$ 53 milhões com o fundo americano Metlife Investiment, a uma taxa um pouco inferior a 10% ao ano, com pagamento em cerca de dez anos. Apesar do prazo alongado, o empréstimo, em dólar, foi fechado com o câmbio de R$ 2, ao menos 40% mais baixo que os níveis atuais.
Conforme fontes próximas de Pupin, a grande liquidez do passado também motivou outros aportes da JPupin, como a construção de um novo armazém e a ampliação da beneficiadora de algodão do grupo. Presidente da Ampa, associação de cotonicultores do país, de maio de 2002 a abril de 2004, Pupin esteve à frente de outras entidades de classe, como o Instituto Algodão Social (IAS), destinado a projetos socioambientais do segmento.
Em 2014, plantou 78 mil hectares entre soja, milho e algodão e, segundo fontes, sua empresa está operando normalmente a despeito da reestruturação financeira em curso. O grande desafio dos produtores que precisam vender terras para saldar dívidas é que esses ativos estão com baixa liquidez. Com débitos de R$ 571 milhões, o Grupo Pinesso, por exemplo, está reavaliando seus ativos para apresentar o plano de pagamento aos credores até 21 de setembro.
O advogado do grupo, José Luis Finocchio Júnior, sócio do escritório Finocchio&Ustra, disse que, de fato, está havendo uma depreciação no mercado de terras, mas que neste momento não há um valor já calculado do patrimônio para apresentar.
“Só depois disso é que vamos propor as eventuais saídas, que podem ser a alienação dos ativos, alongamento ou redução da dívida”.
Finocchio destacou que o grupo continua operando, mas vai reduzir o plantio de algodão, que tem custos por hectare mais elevados do que o dos grãos. Em 2015/16, o grupo não vai plantar algodão na primeira safra e vai ampliar a área de soja.
Folhamax