PM acreditava que tiro em resort não seria letal, diz delegado
O policial militar apontado como autor do disparo que matou o servente de pedreiro J.S.S., de 58 anos, no alojamento dos trabalhadores do resort Malai, acreditava que o tiro disparado era de munição não letal, segundo depoimento dado pelo oficial à Polícia Civil.
O servente foi assassinado na noite de 10 de setembro, após dois policiais militares serem convocados para atender a uma ocorrência no local.
A construção do espaço de luxo está sendo realizada na região do Lago de Manso, em Chapada dos Guimarães, a cerca de 100 km ao Norte de Cuiabá.
Ao MidiaNews, o delegado responsável pela condução do inquérito, Diego Martiniano, de Chapada dos Guimarães, contou que o militar confirmou que efetuou o disparo contra o servente de pedreiro. Porém, ele alega que não teve a intenção de cometer o crime.
“O PM disse que estava com três munições armazenadas na arma, sendo duas delas não letais, que eram as primeiras, e uma letal, que era a última opção. Porém, durante a ação, quando ele foi manobrar a arma, disse que acabou perdendo uma delas e não lembra se a colocou de volta”, disse o delegado.
Na ocasião, a Polícia Civil informou que, durante a ação, foram disparados dois tiros, sendo o primeiro de bala de borracha, que não teria acertado ninguém. Logo em seguida, ocorreu um disparo letal, de uma espingarda de calibre 12, que matou o servente de pedreiro.
O militar afirmou durante o depoimento que acreditava que o segundo tiro também seria um disparo não letal. Porém, como havia deixado cair uma das munições, acabou se confundindo e efetuando o disparo que matou a vítima.
“Um encarregado do alojamento confirmou que encontrou uma munição caída no chão do alojamento e a entregou para o militar. Mas o homem não soube afirmar se o PM colocou a munição de volta à arma”, disse o delegado.
O militar afirmou em depoimento, segundo Martiniano, que somente ficou sabendo que havia atirado com munição letal quando saiu do alojamento.
Logo em seguida, ele afirmou ter acionado o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e uma outra viatura da Polícia Militar, para atender a ocorrência.
O delegado informou que, caso se confirme a versão dada pelo militar, o caso será tratado como homicídio culposo, quando não há a intenção de matar.
Medo de punição
No primeiro boletim de ocorrência, registrado logo após o assassinato, o PM disse que teria efetuado cinco tiros de advertência, com balas de borracha, mas que não conseguiu conter a população, acabando por disparar com arma de fogo.
“Ele contou que não narrou os fatos corretamente porque tinha medo de punição administrativa dentro da Policia Militar, pois perdeu as outras munições que possuía. O PM também disse que a versão contada no primeiro boletim não é verdadeira”, disse o delegado.
De acordo com a nova versão do oficial, ele teria levado seis munições ao local, sendo três dentro da arma e outras três em seu colete à prova de balas. Porém, durante a ação, ele teria perdido as que estavam no colete e utilizado somente as que permaneceram dentro da arma.
Durante o depoimento à Polícia Civil, o PM confessou ter agredido o homem algemado no local, conforme mostra um vídeo divulgado por testemunhas.
“Ele [o militar] disse que perdeu a cabeça e por isso agrediu o homem, pois estava em um momento de muito stress. Ele relatou que tomou uma cabeçada antes de agredir o algemado”, afirmou Martiniano.
Inquérito
O delegado relatou que outro militar, que também atendeu a ocorrência, teria relatado a mesma versão contada pelas testemunhas do local.
Ainda deverão ser ouvidas outras testemunhas que estavam presentes no alojamento dos trabalhadores do resort.
“Estamos aguardando o laudo do exame da necrópsia da vítima e a análise das cápsulas disparadas durante a ação. A questão principal, neste momento, é saber se o militar sabia ou não que a munição era letal”, disse Martiniano.
Após a conclusão das investigações, o inquérito será encaminhado para o Ministério Público Estadual (MPE), que definirá se a denúncia contra o militar será por homicídio culposo ou doloso.
Cautela
O secretário de Segurança Pública, Mauro Zaque, afirmou que é preciso aguardar o resultado do inquérito e das perícias realizadas no local para saber, de fato, como transcorreu a ação.
“Temos que aguardar o resultado do inquérito, das perícias e ver o que as investigações irão apontar. Por enquanto, é muito cedo para falar alguma coisa. Qualquer coisa dita, neste momento, será muito precipitada”, afirmou.
O secretário também preferiu não comentar detalhes da ação dos policiais que atenderam a ocorrência.
“É um fato que comporta várias versões. Temos que saber qual a real versão, para saber se a PM agiu certo ou não”, disse.
O caso
De acordo com a Polícia Militar de Chapada, os operários acionaram a PM para resolver uma confusão envolvendo um dos trabalhadores da obra do resort, que estaria sob efeito de drogas.
Na ocasião, dois policiais militares foram ao alojamento dos trabalhadores para atender a ocorrência.
Porém, a PM alega que, durante a ação, os policiais e os trabalhadores da obra entraram em confronto.
Durante o contratempo, segundo a PM, um dos militares teria disparado para conter os trabalhadores e acabou atingindo um operário, que morreu no local.
Os PMs ainda afirmaram terem sido coagidos pelos trabalhadores logo após os disparos, precisando se esconder em um matagal e solicitar reforço da PM, em Cuiabá.
PMs afastados
A assessoria de imprensa da Polícia Militar informou que a corporação irá apurar o caso, por meio do Comando Regional.
Um processo administrativo será instaurado para investigar a morte do operário.
Durante o período em que as investigações forem realizadas, os dois policiais permanecerão afastados de suas funções.
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