“Rezo todos os dias para que a Justiça seja feita”, diz a mãe de Maiana
“Espero que ninguém passe pelo o que eu estou passando, pois só quem perde uma filha da maneira como eu perdi, para saber a dor que sinto. Eu nunca mais dei um sorriso verdadeiro, nunca mais comi uma comida de verdade, nunca mais dormi um sono de verdade. Parece que a minha vida parou no tempo”.
A declaração é da dona de casa Sueli Cícero Mariana, mãe da adolescente Maiana Mariano Vilela, morta aos 16 anos, por asfixia, em dezembro de 2011, em Cuiabá.
Os suspeitos do crime, o empresário Rogério da Silva Amorim, ex-namorado da jovem, Paulo Ferreira Martins e Carlos Alexandre Nunes, serão julgados pelo tribunal do júri no dia 5 de outubro, a partir de 8h, no Fórum da Capital.
Os três acusados chegaram a ser presos na época, mas foram soltos pela Justiça para aguardarem o processo em liberdade.
Desde então, Mariana conta que tem que conviver com a presença deles no bairro onde mora, próximo à Estrada de Ponte de Ferro, em Cuiabá.
“Eu oro todos os dias para que a Justiça seja feita. Nada vai curar essa dor que sinto, mas, com certeza, vai amenizar com a condenação desses assassinos”, afirmou Mariana, ao receber a reportagem do MidiaNews, em sua residência.
Maiana Vilela desapareceu no dia 21 de dezembro de 2011. Segundo a denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), a jovem foi vítima de um plano cruel para o seu assassinato, supostamente tramado por Rogério.
Na denúncia, o MPE sustenta que Rogério contratou Paulo e Carlos Alexandre para executarem a menor. Ele deu um cheque de R$ 500 para Maiana descontar no Banco Itaú, no CPA 1.
Ela teria que levar R$ 400 desse dinheiro para pagar o caseiro de uma chácara localizada na região do bairro Altos da Glória. Esse pagamento era parte do plano de Rogério para atrair Maiana. Lá, Paulo e Carlos a aguardavam.
A garota foi até a chácara, entregou o dinheiro para Paulo, que a matou em seguida, por asfixia. Ele teve a ajuda de Carlos Alexandre.
A dupla colocou a menor no banco traseiro de um automóvel Uno, de cor prata, que pertencia a Paulo. Eles levaram o corpo de Maiana até a empresa de Rogério, no bairro Três Barras, para comprovar a morte da ex-namorada.
“O Rogério agiu tão friamente que chegou a nos ajudar nas buscas pela minha filha sabendo que ela estava morta”, lamentou Mariana.
“Ele falava pra mim, o tempo inteiro, que tínhamos que achar a minha filha, porque ele não conseguia viver sem ela e que a amava. Dizia que tinha comprado um apartamento para morar com ela e que acreditava que Maiana tinha arrumado um homem mais rico do que ele e, por isso, tinha desaparecido, mas que ela iria voltar para ele”, completou.
Plano do assassinato
Dias antes, com o crime planejado, Mariana disse que Rogério pagou passagens para que ela pudesse visitar a sua mãe portadora de Alzeimer, no Estado Paraná, para que não estivesse aqui quando a filha fosse morta.
“Por isso, ele me mandou para o Paraná, foi tudo arquitetado. Porque se eu estivesse aqui em Cuiabá e minha filha desaparecesse, eu ia procurar a Polícia. Aí, ele ia ser suspeito, porque a delegada ia perguntar com quem ela convivia e eu ia falar dele”, afirmou.
“Eu não acreditava que era o Rogério”.
Mariana disse que jamais desconfiou do empresário, tanto que o defendeu durante um determinado período das investigações. Segundo ela, o empresário tratava Maiana como “uma princesa”.
“Ele me dizia que ia dar um futuro para a minha filha. Que queria que ela se formasse em administração de empresa, para que ela pudesse trabalhar junto com ele”, contou.
Conforme a mãe da menina, Rogério chegou a pedir para ela que fosse ao cartório emancipar Maiana, para que eles pudessem morar juntos.
“Ele dizia que iria comprar um apartamento para morar junto com Maiana, e eu até cheguei de ir ao cartório para emancipá-la, mas não consegui”, disse.
“Não sabia que ele era casado”.
Mariana afirmou que não sabia que Rogério tinha uma esposa.
Segundo a dona de casa, ela só deixava a filha namorar com o Rogério porque Maiana era muito próxima à mãe dele, tanto que chegou a morar com ela por cerca de três meses.
“Se a mãe do Rogério chegasse para mim e falasse que ele era casado, eu nunca deixaria eles namorarem”, afirmou.
Mariana ainda contou que o próprio Rogério disse a ela que já estava separado há mais de cinco anos.
Questionada sobre se a filha saberia que o namorado era casado, Mariana disse que não tinha conhecimento.
“Eu não sei se a Maiana sabia que ele era casado, porque ele ficava o tempo inteiro com ela, mandava flores, bombons. Eu só não entendo o porquê de ele ter mandado matar a minha filha. Se não quisesse nada mais com ela, era só falar para ela cair fora”, completou.
Acusada de exploração sexual
Durante as investigações, a Polícia Civil chegou a investigar Mariana por crime de exploração sexual.
No entanto, ao MidiaNews, ela negou que tenha aliciado a filha para manter o relacionamento com Rogério, por conta de dinheiro.
“Quero deixar claro que não havia nenhuma extorsão, chantagem ou algo do tipo, como foi dito. Não temos dinheiro, somos pobres, mas somos pessoas dignas. Nunca pedi ajuda para cuidar de meus filhos. Fomos abandonados pelo meu ex-marido muito cedo. Me virei sozinha, mas sempre com dignidade. Nunca ‘vendi’ minha filha, eu só queria o bem dela. E tem mais: quem extorque as pessoas tem dinheiro, a minha filha só deixou essas roupinhas, nada de valor. É um canalha dizer que ela estava chantageando ele”, disse.
“Maiana via no Rogério o pai que nunca teve”
Segundo a dona de casa, Maiana gostava muito de Rogério e via nele “o pai que ela nunca teve”.
“O meu marido me largou antes de a Maiana nascer. Então, ela nunca teve um carinho de um pai, e o Rogério dava esse carinho a ela, passava a mão no cabelo, levava para ficar com a mãe dele, e isso significava muito para ela. A Maiana se apegou muito à mãe do Rogério, se sentia útil para ela, porque ajudava nos serviços de casa e do trabalho profissional dela”, disse
Maiana
Muito emocionada, Mariana contou que a filha era muito estudiosa e queria vencer na vida para ajudá-la.
“Nossa vida nunca foi fácil, desde pequena a Maiana me via dando duro para sustentar a nossa família e ela sempre dizia que iria estudar, trabalhar para me dar uma vida melhor”, disse.
Conforme a dona casa, Maiana nunca faltava às aulas e tirava somente nota dez em todas as disciplinas.
“Teve um dia que ficou com cólica a noite inteira e no outro dia amanheceu frio e eu pedi pra ela não ir na escola, mas ela disse que tinha que ir porque eu quero ser alguém na vida”, disse
Mídia News