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Análise: sem Calleri, todo mundo foi “9” na aula de futebol do São Paulo

352582Bauza dá olé na ausência do artilheiro e, com movimentação ofensiva perfeita, arma equipe de centroavantes: Ganso, Michel, Kelvin, Centurión, Thiago… Todos na área.

O São Paulo começou a Libertadores com três centroavantes, atacantes de área, homens-gol. E no jogo em que mais precisava deles, de uma vantagem gorda, não tinha nenhum. Kieza se cansou do banco e partiu. Calleri estava suspenso e Alan Kardec teve uma virose na véspera.

O que fazer?

Trabalhar. Treinar. Pensar. Olhar. Estudar. O São Paulo apelou. A goleada por 4 a 0 sobre o Toluca, do México, deveria ser incluída em manuais de futebol. E quem pensou que a equipe sofreria sem um centroavante teve uma enorme surpresa. Bauza “roubou”. Jogou com três, quatro, cinco centroavantes. Todo mundo vestiu a 9. Todo mundo era artilheiro.

O técnico argentino demorou três meses para tirar o currículo de bicampeão da Libertadores do bolso e exibir seu repertório. Uma semana após tirar Ganso e conseguir certo domínio de jogo na altitude, feito notável, o Patón, mesmo com Kardec se colocando à disposição para iniciar, optou por Centurión. Iniciou sem um centroavante de origem pela primeira vez. Foi um espetáculo.

No 4-2-3-1, esquema do qual Bauza é fã, a previsibilidade é um risco alto. O São Paulo tem conseguido escapar dela. Como? Com uma movimentação impecável. Calleri, autor de 12 gols em 2016, oito só na Libertadores, não estava na área e tampouco Kardec, então a solução foi não sobrecarregar Centurión, o substituto improvisado.

Michel Bastos e Kelvin, atacantes de lado, executaram à perfeição o movimento de escolinha: fecharam, entraram na área quando o lance era construído do lado oposto. Lateral pela direita do ataque: Michel, o atacante da esquerda, estava dentro da área para se aproveitar da falha defensiva do Toluca e abrir o placar.

Triangulação pelo lado esquerdo e Kelvin, o atacante da direita, fechou para concluir o cruzamento de Mena. Uma pancada que balançou o travessão. Posicionamento perfeito.

Hudson e Ganso cabecearam de dentro da área. Thiago Mendes tabelou e fez o gol de dentro da área. Centurión, finalmente, o “9” improvisado, recebeu cruzamento e brigou com a defesa como se fosse Calleri. Como se fosse Kardec. Como se fosse atacante de origem.

Enquanto outros técnicos passaram anos implorando para que seus jogadores entrassem na área, mas sem treiná-los para isso, Edgardo Bauza transformou esse apetite num movimento natural. Ponto para ele.

Pela direita, basta que Bruno passe do meio-campo para começar a caminhar em sentido diagonal, para o centro, e abrir espaço para Kelvin. Do outro lado, as triangulações entre Mena, Michel Bastos e um dos volantes tornam-se cada vez mais fatais. Ganso se aproxima do setor em que mais vê possibilidade de êxito. Patón já disse: ele precisa ter liberdade.

“Ah, então o São Paulo é a oitava maravilha do mundo?”. Não, mas muito longe disso. É um time que ainda luta para ser confiável, desafia limitações individuais para a formação de um coletivo forte e precisa de mais atuações de excelência para ser incluído na lista de favoritos. Mas, da mesma maneira que não se pode elevar seu nível exageradamente, também não se pode fingir que a apresentação da última quinta-feira foi comum. Não foi. Foi magnífica.

E não há desempenho similar que se alcance apenas com tática. O caminho se abriu, o primeiro gol surgiu, da raça do jogador que mais errou em 2016. Centurión não acertava nada. Era um sofrimento vê-lo em campo. Mas, escalado numa posição à qual não está tão habituado, embora costume jogar bem, o argentino lutou pela bola. Incomodou o adversário que estava tranquilo com o domínio da bola e conseguiu um lateral. Da cobrança surgiu o primeiro gol.

Se Centurión não tivesse lutado, transpirado, corrido e acreditado, Michel Bastos não faria o primeiro. Sabe-se lá quando sairia o segundo. E se haveria terceiro ou quarto. Um gesto muda um jogo. Um ato define sucesso ou fracasso. O São Paulo teve sucesso porque treinou, pensou e lutou. A classificação, se vier, será fruto de uma noite quase perfeita.

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