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Casos de obesidade infantil aumentam; especialista faz alerta

nUm risco à saúde das crianças que tem se tornado cada vez mais comum, a obesidade infantil está presente na sociedade mato-grossense e tem se tornado um grande desafio para os pais e nutricionistas.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, em 2015 foram registrados, em Mato Grosso, apenas até agosto, 6.168 crianças com obesidade.

Esse é um número muito próximo ao registrado em todo o ano de 2014, quando foram diagnosticadas 7.584 crianças com obesidade e obesidade grave.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, divulgada recentemente pelo Ministério da Saúde e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um terço (32,3%) das crianças com menos de dois anos de idade consomem refrigerante ou sucos artificiais.

O estudo mostra ainda que passa de 60% o total de crianças nessa faixa etária consome bolos, bolachas ou biscoitos.

A nutricionista e especialista em obesidade e emagrecimento infantil, Graciely Navarros, afirma que, em Cuiabá, tem aumentado o índice de obesidade infantil e os principais problemas relacionados à doença são os maus hábitos alimentares influenciados pelos próprios pais dentro de casa.

“O primeiro ponto a ser reanalisado é o cuidado com a alimentação. Se os pais tiverem uma alimentação saudável, com certeza as crianças vão ter também. As crianças não vão ao mercado fazer compras, então, o que os pais trazem para dentro de casa é o que elas vão comer. Os pais tem que direcionar a própria alimentação e se tornar um exemplo de uma alimentação mais saudável. Como estimular a criança a ingerir frutas e verduras se os pais não ingerem?”, questionou.

“A questão que reforço é a de sentar-se à mesa para fazer a refeição, até para saber como foi o dia da criança. As crianças, hoje em dia, sentam em frente à televisão para comer e a tendência é comer rápido, não mastigar direito e comer mais do que deveria e isso faz muita diferença”, completou.

Diagnóstico

Normalmente, os pais demoram a perceber que a criança está acima do peso e, na maioria das vezes, só a levam em um nutricionista quando os exames apontam colesterol muito alto, por exemplo. Esse é o caso de Ana Clara, que tem apenas seis anos de idade e já passa por uma reeducação alimentar.

A mãe de Ana Clara, Luciene Lisboa, 35, contou, em entrevista ao MidiaNews, que só percebeu que a filha tinha obesidade quando o pediatra solicitou exames, que apontaram o colesterol muito alto.

“Na hora que saiu o resultado do exame, eu me preocupei muito. No outro dia, já marquei consulta com a nutricionista para fazer o acompanhamento da Ana Clara”, diz.

“A nossa família já tem um histórico ruim, porque o pai dela tem diabetes, então, ela tem tendência a ter também. Tivemos que cortar imediatamente o que ela comia e fazer a reeducação alimentar”, completou.

Luciene diz que a filha se alimentava muito mal, era “fã” de pão e requeijão e, na escola, sempre consumia suco industrializado com salgadinhos.

Segundo ela, após as mudanças na alimentação, há dois meses, a filha já progrediu bastante.

“Comecei a mudar alimentação dela, e ela aceitou bem. Hoje, nós saímos para jantar e ela já pede o suco natural dela sem açúcar e come arroz integral e macarrão integral todos os dias. Ela não achou ruim porque a nutricionista conversou com ela e explicou tudo direitinho”, afirmou.

Além de mudar a alimentação, a mãe de Ana Clara a colocou para fazer natação e caminhada todas as tardes. Em sua última consulta com a nutricionista, saiu satisfeita, porque a filha cresceu dois centímetros e não engordou mais nada em dois meses.

“Agora, todos os dias, nós montamos a mesa, jantamos e almoçamos juntos. Ela aprendeu a mastigar, não liga mais a TV no almoço, é ela mesma quem arruma a mesa”, pediu.

Luciene, que fez uma cirurgia bariátrica recentemente, diz que as mudanças afetaram a família toda e, hoje, todos se alimentam bem e fazem caminhada todos os dias.

A nutricionista explica que a forma mais fácil dos pais diagnosticarem a obesidade infantil é se atentar no visual do corpo da criança e analisar se existe aumento de gordura, principalmente abdominal.

“O visual do corpo é um parâmetro mais simples para essa análise como, por exemplo, o aumento de gordura abdominal. Além disso, eles devem observar a qualidade da alimentação e o estilo de vida da criança – ou seja, alimentos com alto teor de gorduras, açúcar simples, baixa aceitação de fruta e verduras e sedentarismo já são fatores de risco e o melhor é prevenir, buscando um profissional para que os problemas não fiquem mais graves”, disse.

“Geralmente, os pais se preocupam a partir dos oito anos de idade e, a maioria das vezes, é porque a criança está com o colesterol muito acima do normal. É quando eu falo para os pais para começarmos a cuidar do peso também, porque eles acham que é normal, e não é”, afirmou a especialista.

Influência da escola

A nutricionista explica que a vida escolar de uma criança também influencia na sua alimentação, porque é o ambiente onde elas passam mais tempo.

“As escolas deveriam ter um estímulo maior quanto ao consumo de frutas e verduras. Acabou aquilo de levar um lanche básico, um bauru, uma fruta na lancheira. Os pais, por acharem mais fácil, dão dinheiro para as crianças, que acabam comprando o que comer na escola, e isso acaba gerando o vício de alimentos com muita gordura e muito sódio”, disse.

Conforme a especialista, uma forma de começar a reeducação alimentar dos filhos é evitar biscoitos recheados, sucos industrializados, salgadinhos e outros produtos com gordura no dia a dia.

“Escolha apenas um dia da semana para a criança comer o que ela quiser. Isso já será uma grande mudança”, afirmou.

Para a nutricionista, o diálogo também é fundamental para explicar à criança qual a importância de manter uma alimentação saudável.

“Não adianta a mãe cuidar dos hábitos dentro de casa e aí, quando chega na escola, a criança ver o coleguinha levando biscoitos e começar a se perguntar por que não está levando também”, explicou.

De acordo com Graciely, antigamente, o quadro de obesidade infantil não era grave porque os lanches levados pelas crianças eram, em sua maioria, feitas pelas mães, em casa.

A nutricionista alerta os pais a retirarem doces, frituras e refrigerantes do cardápio diário dos filhos, deixando esses alimentos para serem consumidos apenas em festas e ocasiões especiais.

“Essas estratégias ajudam muito. Eu também as oriento a fazerem atividade física,”, explicou.

Segundo ela, a tecnologia em demasia também influencia no aumento da obesidade infantil.

Conforme Graciely Navarros, com os videogames, tablets e celulares com internet móvel, as crianças estão cada vez mais sedentárias. Para agravar o quadro, os pais estão facilitando o acesso dos filhos a esses objetos quando as crianças ainda são muito novas.

“Hoje, as crianças não saem mais de casa para brincar, ficam muito tempo no videogame ou no tablet e isso acaba atrapalhando. Os pais devem ter essa atenção especial”, disse.

“Ao liberarem o acesso à tecnologia, como o celular, muito cedo, eles deixam as crianças ficarem acordadas até tarde. Quando chega de manhã, que é a hora de elas irem para escola, ela está cansada. Quando chega da escola, elas dormem a tarde toda, não têm estímulo nenhum para fazer uma atividade física, até mesmo para fazer os afazeres dentro de casa. E quanto mais o tempo vai passando, mais sedentária ela fica. As crianças de hoje vivem cansadas, então, eu oriento aos pais que coloquem os filhos para fazerem algum esporte”, completou.

IMC

Segundo a especialista, um cálculo que ajuda no diagnóstico da obesidade infantil é o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), que é a relação entre peso e altura, caso o percentual seja acima de 97%.

“Além disso, o diagnóstico pode ser feito através da anamnese clinica e nutricional (qualitativa e quantitativa), de exames físicos (circunferência abdominal aumentada) e do surgimento de comorbidades como resistência a insulina, dislipidemia, placas de aterosclerose”, afirmou.

Mídia News

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