Opinião

Cientistas criam primeira interface para conectar cérebros humanos

interface-20130829-size-598Pesquisadores da Universidade de Washington realizaram o que afirmam ser a primeira interface cérebro–cérebro entre dois seres humanos. Eles foram capazes de captar a atividade cerebral de um voluntário, transmitir o sinal via internet e usá-lo para controlar os movimentos da mão de outro homem. “A internet sempre foi uma maneira de conectar computadores e, agora, poderá ser uma maneira de conectar cérebros”, afirma Andrea Stocco, professor de psicologia da Universidade de Washington, que teve sua mão controlada durante o experimento.

As interfaces cérebro-cérebro têm sido teorizadas já há algum tempo pelos pesquisadores, mas só começaram a sair do papel neste ano. Em fevereiro, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis anunciou a primeira interface do tipo, ao transmitir sinais elétricos entre os neurônios de dois ratos: um localizado nos Estados Unidos e outro no Brasil. Dois meses depois, pesquisadores da Universidade Harvard demonstraram que era possível transmitir os sinais cerebrais de um homem para o cérebro de um rato, comandando os movimentos de sua cauda.

Os pesquisadores da Universidade de Washington afirmam, no entanto, que essa é a primeira vez que tal comunicação é realizada entre dois seres humanos. “Nós conseguimos plugar um cérebro ao computador mais complexo já estudado por qualquer cientista: outro cérebro humano”, diz Chantel Prat, pesquisadora da Universidade de Washington que também participou do estudo.

Disparos mentais — Rajesh Rao é professor de ciência da computação na Universidade de Washington, e há mais de dez anos trabalha no desenvolvimento de interfaces cérebro-máquina. No dia 12 de agosto, ele estava sentado em seu laboratório usando um capacete com eletrodos ligados a uma máquina de eletroencefalograma, capaz de ler a atividade elétrica de seu cérebro.

Enquanto isso Andrea Stocco estava em seu laboratório — no outro extremo do campus universitário — vestindo uma touca de natação roxa que dava suporte a um aparelho de estimulação magnética transcraniana, capaz de estimular o cérebro e induzir uma resposta neural. Seu efeito normalmente depende da área onde ele é aplicado. Neste caso, o aparelho foi colocado diretamente sobre o córtex motor esquerdo, mais precisamente na área que controlava os movimentos de sua mão direita.

Em sua sala, Rao estava olhando para uma tela de computador onde deveria jogar um videogame bastante simples. No jogo, ele deveria impedir que uma cidade fosse atingida por uma série de mísseis disparados por navios piratas. Para isso, deveria acertá-los com balas de canhão, disparadas no momento exato em que os mísseis estivessem ao alcance. O jogo exigia que o disparo fosse realizado em um espaço de tempo pequeno, mas, fora isso, não exigia grande destreza técnica. O objetivo deveria ser facilmente atingido por Rao, não fosse por um pequeno problema: o botão que disparava o canhão não estava em seu teclado, mas no teclado do computador de Andrea Stocco, do outro lado da Universidade.

Durante o experimento, no momento em que o canhão deveria ser disparado, Rao imaginou mover a mão direita. Quase instantaneamente, Stocco moveu seu dedo indicador direito de forma involuntária para apertar a barra de espaço no teclado em sua frente, disparando o canhão, acertando o míssil, salvando a cidade e demonstrando o sucesso da interface. Stocco comparou a sensação do movimento involuntário de sua mão a um tique nervoso. O resultado está publicado no site da Universidade de Washington.

Controle mental — Rajesh Rao afirma que foi emocionante — e assustador — assistir a uma ação imaginária de seu cérebro ser traduzida em uma ação efetiva por outro corpo. Mesmo assim, esse ainda seria o primeiro passo no desenvolvimento das interfaces cérebro-cérebro entre humanos. “Este foi basicamente um fluxo unidirecional de informações do meu cérebro para o dele. O próximo passo é estabelecer uma conversa de duas mãos entre os dois cérebros”.

Os pesquisadores dizem que a tecnologia pode ter várias aplicações no futuro, como permitir que alguém no solo controle os movimentos de uma pessoa a bordo de um avião cujo piloto está incapacitado. Ou permitir que uma pessoa com deficiência seja capaz de comunicar seus desejos, como pedir alimento ou água. Os cientistas deixam claro, no entanto, que a interface não poderá ser usada para desenvolver técnicas de domínio mental ou corporal. “Eu acho que algumas pessoas vão ficar nervosas com relação a isso, pois irão superestimar a tecnologia. Não há nenhuma maneira possível de ela ser usada em uma pessoa que não queira participar ou que não saiba que está participando”, afirma Chantel Prat.

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