O arroz é um dos cereais mais cultivados do mundo e a base alimentar de três bilhões de pessoas. Porém, devido ao seu enraizamento superficial, ele é muito sensível à escassez de água e, por isso, existe uma preocupação sobre de que forma ele vai se adaptar aos problemas que serão provocados pelas mudanças climáticas nos próximos anos. Agora, um novo estudo parece ter encontrado uma solução para isso. Cientistas japoneses identificaram um gene que favorece um enraizamento mais profundo das plantações de arroz e que permite que elas captem água em camadas mais profundas do solo e sobrevivam à seca. A descrição da pesquisa foi publicada neste final de semana na revista Nature Genetics.
Alteração genética — A equipe de pesquisadores, coordenada por Yusaku Uga, cientista do Instituto Nacional de Ciências Agrobiológicas, do Japão, identificou um gene denominado DRO1 que favorece o crescimento de raízes para baixo. Depois de identificarem o gene, os cientistas selecionaram duas variedades de arroz: o IR64, uma das mais cultivadas na Ásia, porém de enraizamento superficial, e o Kinandang Patong, variedade cultivada nas Filipinas que se enraíza mais profundamente no solo e que apresenta o gene DRO1. A equipe, então, transferiu esse gene para a variedade IR64. Essa planta, geneticamente modificada, recebeu o nome de Dro1-NIL. De acordo com os cientistas, a nova planta apresentou um sistema de raízes mais profundo — a profundidade máxima de suas raízes foi mais do que o dobro da do arroz IR64 — sem outras diferenças significativas.
Resistência — Os pesquisadores também estudaram o impacto do gene DRO1 na resistência à seca, comparando as variedades Dro1-NIL, a planta geneticamente modificada, e IR64, com enraizamento superficial, em diferentes condições de cultivo.
O estudo demonstrou que, em condições de seca moderada, o rendimento da plantação da variedade IR64 é apenas 42% do seu rendimento em condições normais. Uma seca severa, porém, é capaz de levar a um rendimento praticamente nulo dessa variedade. Em contrapartida, o arroz geneticamente modificado praticamente não foi afetado pela seca moderada, enquanto seu rendimento caiu cerca de 30% em caso de seca severa.
“Nossos resultados abrem portas para novas estratégias de seleção, usando genes influentes no sistema de raízes para desenvolver variedades com uma forte capacidade de adaptação à seca”, escreveram os autores no estudo. De acordo com o coordenador da pesquisa, a equipe está avaliando a eficácia do gene DRO1 em uma análise feita juntamente com o Instituto Internacional de Pesquisa sobre o Arroz. “Se conseguirmos obter resultados positivos, esperamos lançar essa variedade do arroz nos países asiáticos.”