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Crimes, mensalidades e taxa de segurança financiam as ações do Comando Vermelho

Os membros do Comando Vermelho do Estado cobram mensalidade de traficantes e dos próprios aliados, além de exigirem uma “taxa de segurança” a comerciantes, segundo investigações da Polícia Civil. Conforme as apurações, eles arrecadam, por mês, cerca de R$ 170 mil, somente por meio de mensalidades pagas pelos faccionados.

As apurações da Polícia Civil, por meio da Diretoria de Inteligência e da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), apontaram o modo como funciona a facção criminosa. As investigações culminaram na operação Red Money, deflagrada nesta quarta (8).

De acordo com a Polícia Civil, o esquema de arrecadação de dinheiro da facção criminosa envolve as mensalidades pagas por traficantes, em valores que variam de R$ 100 a R$ 150. “A facção tinha o monopólio do tráfico doméstico e caso os traficantes não pagassem, eles iam para cima deles”, explicou o coordenador de Inteligência da Polícia Judiciária Civil, Luiz Henrique de Oliveira.

Além dos traficantes, Oliveira pontuou que os próprios membros da facção são obrigados a pagar o mesmo montante. “Existem centenas de pessoas cadastradas, que se dizem faccionadas e precisam pagar essas mensalidades”, disse. Os montantes arrecadados dos próprios membros passam de R$ 1,2 milhão por ano, segundo a Polícia Civil.

Outro meio encontrado pelo grupo criminoso para ganhar dinheiro são as “taxas de segurança” cobradas de comerciantes, cujo valor é de, aproximadamente, R$ 120. O fato foi percebido, segundo a Polícia Civil, em diversas regiões de Rondonópolis (a 212 km de Cuiabá).

“Os criminosos se dirigiam aos comerciantes e ofereciam uma suposta segurança a ele. Eles prometiam uma ilusão de segurança ao dizer que os comércios deles não seriam mais assaltados”, disse Oliveira.

“Mas antes dessas taxas, esse comerciante era assaltado diversas vezes. A gente trata isso como extorsão, porque caso o comerciante não colaborasse e não pagasse essa taxa de segurança, aquele estabelecimento era alvo dos criminosos sistematicamente”, acrescentou.

Os comerciantes, traficantes ou membros da facção que faziam pagamentos ao grupo recebiam adesivos para atestar que estavam contribuindo com a facção.

“No caso dos comerciantes, eles afixavam, nos estabelecimento, um adesivo que fazia alusão à facção e ali estaria uma comprovação de que os proprietários daquele estabelecimento cooperavam financeiramente com a facção. E quando os criminosos passavam por aquele lugar, que poderia ser alvo, identificavam que aquele comerciante colaborava e, por isso, desistiam do crime”.

Conforme a Polícia Civil, proprietários de motocicletas e carros de áreas dominadas pela facção, em Rondonópolis, também tinham de contribuir com o Comando Vermelho. Eles teriam de pagar R$ 50, em casos de carros, e R$ 30 quando eram proprietários de motocicletas.

Enriquecimento dos membros

Ainda segundo a Polícia Civil, outra fonte de renda da facção é originada de crimes articulados de dentro do presídio, como roubos e furtos de veículos e agências bancárias, tráfico de drogas, estelionatos diversos, entre outros.

As investigações apontaram que o Comando Vermelho movimentou no Estado, no período de 1° de junho de 2016 a 18 de janeiro deste ano, cerca de R$ 52 milhões.

O montante é usado no enriquecimento ilícito das principais lideranças com a compra de veículos de alto valor, propriedades rurais e urbanas. Segundo a Polícia Civil, carros luxuosos são ostentados pelas mulheres das lideranças, que são bancadas com o dinheiro da atividade criminosa.

As investigações apontaram que o alto escalão financeira da facção no Estado é composto por: Francisco Soares Lacerda (Brasília) e Jonas Souza Gonçalves Junior (Batman), sendo este último dono da empresa JJ.Informática, constituída com fins de lavagem do dinheiro das ações criminosas. Os dois, assim como outras lideranças e colaboradores, tiveram mandados de prisão preventiva cumpridos na operação Red Money.

A operação

A Red Money investigou o sistema de arrecadação financeira do Comando Vermelho, que possui formato de pirâmide. Conforme a Polícia Civil, no topo do grupo está o núcleo de liderança e na base dezenas de contas bancárias, com movimentação menor, que fazem a captação de dinheiro, e, gradativamente, fazem o repasse às contas maiores.

A Justiça expediu mais de 230 ordens judiciais, sendo 94 mandados de prisão preventiva – 30 alvos estão dentro de presídios –, 59 buscas e apreensão, 80 ordens judiciais de bloqueios de contas correntes, além de sequestro de bens (veículos, joias, imóveis urbanos e rurais) e valores e interdição de duas empresas.

As ordens foram deferidas pelo juiz de direito, Marcos Faleiros da Silva, da 7ª Vara Criminal – Vara Especializada do Crime Organizado. Até a noite de quarta, a operação havia cumprido 83 mandados de prisão.

RDNews

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