Delegado diz que prisão de jornalistas por extorsão foi em flagrante esperado
Os jornalistas Pedro Ribeiro e Laerte Lannes, dos jornais “Página 12” e “O Mato Grosso”, presos na manhã desta quarta-feira (30) acusados de extorquir o conselheiro Antonio Joaquim, do Tribunal de Contas do Estado (TCE), foram alvo de um flagrante esperado. A afirmação é do delegado responsável pelo caso, Marcel Gomes de Oliveira. Ambos foram flagrados no escritório do advogado José Antonio Rosa, que representa o conselheiro, cobrando para não publicar denúncias contra ele e recebendo dois cheques, no valor de R$ 10 mil cada.
O flagrante esperado caracteriza-se pelo fato de, sabendo que um delito poderá acontecer, a polícia espera no local para prender o criminoso em flagrante. O delegado afirma que essa técnica é legal, diferente do flagrante preparado ou provocado, em que a polícia leva o criminoso a cometer o crime, e que é alvo de muitos questionamentos jurídicos.
“Os jornalistas e o advogado José Rosa haviam marcado esse encontro, e o advogado nos avisou. Então fomos ao escritório dele, no bairro Quilombo. Ele gravou toda a reunião. Esperamos eles cometerem o crime, ou seja, pedir o dinheiro e receber os cheques, para então prendê-los. Não foi um flagrante preparado, porque não induzi ninguém a cometer o crime. Foi um flagrante esperado. São coisas diferentes”, afirmou o delegado ao Olhar direto.
A previsão de Marcel Oliveira era ouvir os dois suspeitos, o advogado José Rosa, e os policiais que acompanharam a ação ainda nesta quarta-feira. O conselheiro Antonio Joaquim deve ser ouvido ainda esta semana, quando voltar ao Brasil.
Reuniões gravadas
Responsável pelas gravações da extorsão, o advogado José Rosa relatou que foi procurado pela dupla de jornalistas pela primeira vez na semana passada. Como o conselheiro havia se recusado a receber os dois, em função da publicação de reportagens contra ele em quatro edições seguidos dos jornais sem que ele fosse ouvido, Laerte e Pedro contataram o advogado. José Rosa contou que gravou a primeira reunião e levou à polícia.
“Os dois jornalistas afirmaram para mim que foram contratados pelo médico Alonso Alves Filho [sócio-proprietário do Hospital Otorrino] para denegrir o conselheiro. Porém, eles alegaram que o cheque do médico voltou, e resolveram procurar o Antonio Joaquim. Ofereceram entregar todas as denúncias que eles tinham contra o conselheiro, e até mesmo fazer matérias com testemunhas contra o médico”, disse.
José Rosa relatou que os dois pediram a ele o mesmo valor que supostamente o médico havia pagado a eles, R$ 50 mil, e mais um contrato de mídia com o TCE de R$ 5 mil durante o mandato do Antonio Joaquim como presidente, que começa no ano que vem. O advogado contou que, durante a reunião desta quarta-feira, acompanhada pela polícia, negociou redução desses valores e Laerte acabou convencendo Pedro a aceitar um cheque de R$ 10 mil para cada.
Os dois foram presos pela Polícia Civil após deixarem a sala do advogado, quando estavam na porta do escritório. Os dois cheques estavam em poder de Laerte no momento da prisão, de acordo com a polícia. Ambos foram enaminhados para a Delegacia de Roubos e Furtos, no bairro Verdão, onde devem passar a noite.
Olhardireto