Política

Desembargador nega ter usado influência em favor de Silval

ppO desembargador Marcos Machado, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, negou ter cometido qualquer ato que possa ser classificado como “tráfico de influência”, no fato de ter conversado ao telefone com o ex-governador Silval Barbosa (PMDB), na época em que a ex-primeira dama Roseli Barbosa estava presa e buscava a liberdade no tribunal.

O áudio da conversa foi “vazado” à TV Centro América (Rede Globo), que apontou uma suposta tentativa de Silval em buscar apoio de Machado para a soltura de sua esposa.

Ao MidiaJur, o desembargador afirmou que apenas se colocou à disposição para atender Silval pessoalmente, o que, segundo ele, acabou nem ocorrendo.

Na época, o desembargador Rondon Bassil manteve a prisão da ex-primeira-dama, que só foi solta por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no fim do mês passado.

“Eu retornei uma mensagem dele de que queria falar comigo. Eu fiz um gesto de solidariedade, de responder e me colocar à disposição, não como juiz, mas dentro da relação que eu tenho com ele desde 2002. Tenho gratidão por ter me escolhido ao cargo de desembargador, mas essa conversa pessoal acabou nem acontecendo”, afirmou Marcos Machado.

Sobre o trecho da conversa em que Machado diz a Silval que não iria atender pois “não foi o ideal”, o desembargador explicou que a fala era relativa ao pedido do ex-governador para que ele atendesse seus advogados em sua casa.

“Eu falei para ele que não era o ideal, que não iria atender advogado em minha casa. Mas isso foi colocado na imprensa como se eu estivesse acompanhando a tramitação do habeas corpus, o que não é verdade”, afirmou.

“A manifestação foi inserida como se eu pudesse exercer alguma influência. Estão me colocando dentro de um processo ou de uma situação que nunca ocorreu e nunca vai ocorrer”, acrescentou.

“Atuei na política. É costume as pessoas me ligarem. Atendo a todos”, completou

Marcos Machado classificou como uma “irresponsabilidade” o vazamento da conversa, uma vez que ele, em razão de ter sido nomeado desembargador por Silval Barbosa, é, naturalmente, suspeito para atuar nesse tipo de caso.

“Jamais iria julgar ou participar de julgamento dele, nem de esposa e nem de filhos”, disse.

“Não é só o Silval Barbosa, não. Já me declarei e me declaro suspeito em todos os processos em que o ex-governador Blairo Maggi figura como autor e como réu. Um me nomeou e o outro foi alguém com quem eu trabalhei. A minha identificação com eles é muito clara. Agora, porque ele está sendo processado vou dizer que não conheço? Como um desembargador que foi nomeado pelo governador vai julgar processo dele e da mulher dele? Já havia uma incompatibilidade natural. O ato político de me nomear já me colocava em suspeição. No tribunal, eu nunca participei de julgamento do Silval. Quero que a sociedade tenha a tranquilidade de saber que eu, Marcos Machado, não participo de julgamentos de processos de Silval e nem da família dele”, explicou.

Sindicância

Marcos Machado afirmou que constituirá advogado e irá pedir a abertura de uma sindicância contra ele para apurar os fatos, após obter a cópia integral da gravação telefônica.

“Vou pedir que o Tribunal de Justiça instaure uma sindicância contra mim, porque isso é o mínimo. Quero que fique esclarecido que o meu gesto foi de solidariedade, como uma pessoa que tem uma relação pessoal e visualiza um drama. Dentro de uma situação pública como essa, eu posso me expressar sobre um fato jurídico ”, disse.

O desembargador também afirmou que ficou surpreso com o fato de nem o Ministério Público nem a juíza Selma Arruda o ter notificado sobre a interceptação telefônica, o que, para ele, evitaria toda essa situação.

“Eles poderiam ter me solicitado explicações. Poderiam ter me colocado em suspeição. Eu não compreendo por que eleger um canal de comunicação para divulgar isso. Reconheço que sou naturalmente suspeito para julgar os processos contra Silval e sua família, em virtude da nomeação ao Tribunal. A própria juíza, quando identificou que era um telefone funcional, deveria oficiar ao Tribunal comunicando o fato. O Ministério Público, diante da dúvida em relação a mim, poderia ter suscitado minha suspeição ou feito uma representação contra mim”, afirmou.

Para Machado, a forma como esse áudio foi vazado colocou em dúvida sua honorabilidade e probidade de julgar, “e isso ninguém repõe”.

“Eu não quero deixar nenhuma dúvida sobre a atuação do Tribunal de Justiça, não tenho esse direito. Esse é meu constrangimento em relação aos meus colegas. Eu não tenho um processo que se possa colocar em dúvida minha atuação, nesses anos que atuo no Tribunal. Não iria me permitir”, concluiu.

Mídia News

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