Famílias sofrem com a perda de entes queridos no trânsito
Quando se trata de ocorrências de trânsito, a legislação brasileira tem despertado a revolta da população.
A principal indignação é quanto ao arbitramento de fiança a condutores que, por estarem embriagados ou em alta velocidade, acabam matando inocentes.
Entre janeiro e abril deste ano, a Polícia registrou 41 mortos no trânsito da Grande Cuiabá, conforme dados da Delegacia de Delitos de Trânsito da Capital (Deletran).
Conforme o delegado Jeferson Dias Chaves, até o momento, houve uma redução de 30% no número de vítimas fatais.
Se os índices se mantivessem os mesmos dos anos anteriores, segundo ele, poderim ser de um terço em relação às execuções de homicídios, que, nesse período, foi de 126 execuções, conforme a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Assim como nos assassinatos, Cuiabá registrou mais vítimas fatais no trânsito do que Várzea Grande.
Foram 26 óbitos no trânsito da Capital contra 15 na Cidade Industrial, no quadrimestre.
O maior número de mortes foi registrado no mês de março, quando ocorreram nove mortes em Cuiabá contra oito em Várzea Grande.
Embriaguez x trânsito
No dia 21 de junho, em Cuiabá, a suposta junção de embriaguez ao volante e alta velocidade provocou a morte da frentista Janaína Almeida Rodrigues, de 26 anos.
Ela foi atropelada quando seguia para o trabalho, na Avenida General Mello, por um veículo Prisma preto, cujo motorista invadiu a contramão e bateu de frente com a motocicleta da vítima.
Com o impacto, Janaína foi arremessada a 28 metros de distância e morreu na hora. Ela deixou o marido e um filho de três anos.
O motorista do carro, Alysson Guedes Zoli Delazaria, de 26 anos, por sua vez, pagou uma fiança de dois salários mínimos – correspondente a R$ 1,5 mil – e foi liberado.
O amigo dele, que também estava no veículo, Kennedy Max Velho, de 33 anos, assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e também foi colocado em liberdade.
O teste do bafômetro, realizado apenas cinco horas após o acidente, constatou que os dois estavam alcoolizados.
Agora, a família de Janaína tenta mudar o flagrante de homicídio culposo para homicídio doloso (quando há intenção de matar).
“Uma pessoa habilitada sabe muito bem que não pode dirigir embriagada e andar em alta velocidade em vias públicas, onde há pessoas transitando a todo momento, então ele [motorista] assumiu o risco de matar e vai ter que pagar por isso”, disse a irmã da vítima, Cristina Almeida Rodrigues, ao MidiaNews.
Emocionada, Cristina contou que a irmã era muito batalhadora e fazia de tudo pelo filho.
“Está sendo muito difícil para o meu sobrinho. Ele está em uma fase de questionar sobre tudo. E como é que a gente explica para uma criança que a mãe dele não vai voltar mais? Que a mãe dele saiu para trabalhar e morreu? Como é que ele vai entender a morte aos três anos de idade? Infelizmente, ele está sendo obrigado a entender isso. Eles tiraram a mãe do meu sobrinho, tiraram a chance da minha irmã criar o filho dela”, disse.
A dor da perda e da impunidade deixou a mãe de Janaína em depressão, conforme Cristina. Ela afirma que o sofrimento só será amenizado quando a justiça for feita.
“Eu sei que o meu coração e o da minha mãe só vão sossegar quando a justiça for feita. A dor da perda não tem como reparar e, se nós não tivermos um respaldo da lei, essa ferida vai ficar sangrando por muitos e muitos anos”, afirmou.
Na próxima terça-feira (21), às 17h, a família de Janaína vai realizar uma nova passeata no local do acidente, contra a impunidade em casos de violência de trânsito.
“Estamos nos unindo a outras pessoas que também estão passando pelo mesmo sofrimento para pedir por justiça e colocar um freio na imprudência no trânsito em Cuiabá. Hoje, infelizmente, nós estamos passando por isso, mas amanhã pode ser outra família”, disse.
“Eu posso falar que há um mês eu não sabia que dor era essa. A gente via na televisão, sentia a impunidade, revolta, mas não é algo com você. Só que quando vem para dentro da sua família é que você vê o estrago que isso causa, o desespero, a dor, a sensação de abandono”, completou.
Para Cristina, o Código Brasileiro Trânsito “deixa a desejar”.
“Hoje uma pessoa mata no trânsito, vai para a delegacia, paga uma fiança e sai de lá habilitado para matar de novo. Isso é uma vergonha para o nosso país. É uma vergonha ver que os nossos parlamentares, que são eleitos pelo povo para defender os nossos direitos não enxergam isso, não dão valor nenhum a vida humana. Eles só dão valor quando o cidadão consegue votar. Agora, quando você morre, não importa para eles. Você está morto, e morto não elege ninguém”, criticou.
Para a família da vítima, o momento é de se unir para “gritar por Justiça” e impedir que o caso de Janaína – assim como outros que ocorreram recentemente na Capital – caia no esquecimento.
“Por isso é que temos que nos unir, temos que lutar. Os políticos são empregados do povo. Temos que ter ciência de que eles estão lá para defender os nossos interesses e não os interesses deles. Nós temos que gritar por justiça e o caso da minha irmã não vai ficar no silêncio. Enquanto eu tiver forças, não vou deixar. Enquanto eu não tiver uma resposta à altura da Justiça, eu não vou sossegar”, disse.
Mídia News