Ferrovia: uma velha história
Discussões foram iniciadas após a Guerra do Paraguai e viraram discórdias entre o Sul e o Norte de Mato Grosso.
Desde 1976, acompanho muito de perto a história da ferrovia em Mato Grosso. Tive longas e memoráveis conversas com o legendário engenheiro civil Domingos Valério Iglesias, falecido em 2010, aos 83 anos de idade, lúcido e atuante.
Conhecia melhor do que ninguém o tema e não tinha medo de fazer colocações duras a respeito.
Outra fonte de conversas foi o querido amigo Vicente Vuolo, deputado federal que em 1975 levantou o tema na Câmara Federal e introduziu a ferrovia entre Jales-SP e Cuiabá no Plano Nacional de Viação.
Gastou todo o mandato de deputado federal, terminado em 1979 e o de senador entre 1979 e 1983 brigando pelo projeto da ferrovia.
Mesmo depois de deixar o mandato de senador, continuou mobilizando a sociedade e amigos da política de Brasília, Mato Grosso e São Paulo, pra não deixar morrer o projeto.
Naquele momento, o grande empecilho era a conclusão da ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná ligando São Paulo a Mato Grosso do Sul.
Era um projeto caro que estava emperrado por falta de recursos do governo de São Paulo, a quem cabia a responsabilidade de construir a ponte.
Vuolo organizou sucessivas caravanas de personalidades mato-grossenses para irem até Jales conhecer a ferrovia, as obras e a ponte. Estive em três delas e escrevi artigos a respeito. Pretendia construir consenso e simpatias.
Afinal, conseguiu. A ponte foi concluída e os trilhos chegaram até o município de Alto Taquari, em Mato Grosso, em 1999.
A obra, inicialmente, era uma concessão da empresa Ferronorte, de propriedade do empresário Olacyr de Moraes, que tinha grandes interesses nos estados de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul.
No atual município de Campo Novo do Parecis, o grupo Itamaraty, tinha um enorme projeto de agricultura chamado de Itamaraty Norte, hoje arrendado ao Grupo Amaggi para produção agropecuária.
A história nos intervalos entre o projeto, a brigada pela conclusão da ponte rodoferroviária, a luta do senador Vicente Vuolo, e chegada dos trilhos a Rondonópolis em 2012, tem, muitas passagens, como três trocas de concessão, devolução da concessão e, por fim, a concessão ao atual Grupo América Latina Logística.
Porém, a história anterior da ferrovia, cujas discussões foram iniciadas lá atrás, após o fim da Guerra do Paraguai, merecem uma conversa à partem, amanhã, porque foi um dos elementos das primeiras discórdias entre o Sul e o Norte do velho Mato Grosso, que resultou na divisão estadual em 1977.
Trago o assunto agora por conta dos encontros entre governadores amazônicos e do Centro-Oeste com empresários ferroviários chineses ao longo desta semana.
Cuiabamais