Frigorífico de Barra do Bugres cai em delação de Pedro Nadaf
A empresa do setor de frigoríficos Navi Carnes, localizada em Barra do Bugres (a 164 km de Cuiabá) – é suspeita de ter repassado R$ 200 mil em propina para ser beneficiada com reduções do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços). A informação consta na delação do ex-secretário de Estado, Pedro Nadaf, junto à Procuradoria Geral da República (PGR).
O termo foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O episódio teria ocorrido em 2013 e conforme Nadaf, a Navi foi beneficiada com um crédito de R$ 2,5 milhões por conta da redução do ICMS em contas de energia e telefone, por exemplo.
Segundo Nadaf, o benefício foi um pedido que o deputado estadual José Domingos (PSD) fez ao então governador Silval Barbosa (PSDB). Nadaf então foi incumbido pelo governador para elaborar o esquema.
Domingos ainda autua como deputado na Assembleia Legislativa (AL-MT). Ele chegou a ser um dos parlamentares gravados pelo ex-chefe de gabinete, Sílvio César Correa, recebendo supostamente propina dentro do palácio Paiaguás.
Nadaf detalhou que os R$ 2,5 milhões era para que a Navi “pudesse utilizar o recurso para fazer a pavimentação da estrada de acesso da planta industrial até a rodovia MT que liga a cidade de Barra do Bugres à cidade de Tangará da Serra”. O ex-secretário de Estado revelou que recebeu valor diretamente do dono da empresa, por ter concedido o benefício a Navi Carnes.
Nadaf depositou esse quantia em quatro cheques, no valor R$ 50 mil, na conta de sua namorada Narjara Barros. “Desse valor o colaborador, nos meses de novembro de 2013, janeiro e maio de 2014 depositou quatro cheques oriundos da empresa Clari Participações e Administração Societária Ltda da qual a Navi Carne é sócia, totalizando o montante de R$ 50 mil na conta de sua namorada Narjara Barsos”, destaca.
Por conta da propina, o dono da Navi Carnes procurou Nadaf no ano seguinte para se beneficiar novamente dos incentivos fiscais. “O colaborador se lembra que no mês de setembro de 2014 o empresário proprietário da Navi Carnes procurou pelo colaborador e lhe solicitou apoio junto a Sicme no sentido de que a empresa, atendendo os devidos requisitos necessários, fosse beneficiada pelo sistema de incentivos do Prodeix”, enfatiza.
No entanto, Nadaf destacou que nem precisou intervir pelo empresário, já que a situação da empresa estava regular para receber os incentivos. Porém, a Navi Carnes não chegou a ser beneficiada.
O Prodeic foi suspenso em 2015 no início da gestão do atual Governo do Estado, que criou uma alíquota única para todas empresas do ramo frigorífico. Mesmo sem o benefício, Nadaf conta que o dono da Navi Carnes lhe repassou R$ 400 mil em razão do apoio prometido.
Essa quantia, conforme delator, serviu para pagar dívidas da organização criminosa que agia na cúpula central do governo, e que era comandada por Silval Barbosa. “Em razão desse apoio que o colaborador prometeu fornecer ao empresário, este entregou ao colaborador pessoalmente em seu gabinete na Casa Civil, vários cheques, todos oriundos da empresa Clari Participações E Adminitração Societária Ltda, cujo valor total não se recorda, e desse valor o colaborador primeiro usou de parte para quitar dívidas da organização criminosa, também não se lembrando quais eram as dívidas, nem mesmo os valores, ficando o remanescente no total aproximado de R$ 400 mil na posse do colaborador”, frisa.
Nadaf afirma ainda que desse montante, ele depositou um cheque de R$ 75 mil na conta de Narjara Bairros, sua namorada. Investigações da Delegacia Especial em Crimes Fazendário e Contra a Administração Pública (Defaz), da Polícia Civil, constaram que a organização criminosa montada por Silval no Governo do Estado desviou milhões de recursos públicos, por meio do programa de incentivos fiscais, o PRODEIC.
Esse esquema operou na cúpula central do Governo de Mato Grosso entre anos de 2011 a 2015, e ainda contava com os secretários de Estado Pedro Nadaf (Casa Civil); Marcel de Cursi (Fazenda); o ex-procurador Francisco Lima, o Chico Lima; o ex-chefe de gabinete de Silval, Silvio Cezar; e a ex-secretária da Federação do Comercio de Mato Grosso (Fecomércio), Karla Cintra. Todos eles respondem na Justiça pelos crimes de lavagem de dinheiro, extorsão e concussão – ato de exigir para si, ou para outrem, vantagem indevida. A denúncia foi aceita pela Sétima Vara Criminal de Cuiabá e os acusados se tornaram réus no processo, que se iniciou em 2015. Nadaf responde e outros réus estão respondendo os processos em liberdade.
Fonte: FolhaMax