De ídolo do Flamengo ao registro número 326.944 na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem (MG). Essa foi a mudança na vida do ex-goleiro Bruno Fernandes em três anos. Condenado a 22 anos e três meses de prisão por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e sequestro da amante Eliza Samudio, o ex-jogador se disse arrependido. Em entrevista ao Domingo Espetacular feita dentro da cadeia pelo jornalista Marcelo Rezende, Bruno fala em “dar a volta por cima”. Ele ainda afirmou estar preocupado com a forma como o filho, Bruninho, vai entender a história, e pediu perdão.
— Se ele estivesse aqui do meu lado, eu iria poder pelo menos abraçá-lo e pedir perdão. Mas, com certeza, esse momento um dia há de chegar e eu preciso só de uma oportunidade para poder olhar nos olhos dele e dizer pra ele que eu, independente do que aconteceu, que ele me perdoe, e que eu possa abraçá-lo, que eu possa dizer que eu o amo.
Mesmo sem ter feito o teste de paternidade, Bruno diz que considera o menino como filho. Ele contou que já se propôs a fazer o exame.
— Muita gente fala assim: “ah, é filho do Bruno”. É meu filho? Então, peraí, mesmo sem fazer o DNA, eu vou assumir a criança porque a criança não tem culpa de nada. […] Se for meu filho mesmo, ótimo. Já registrei, já tenho sentimento de pai pela criança. Se não for, o sentimento não vai mudar. O meu sentimento de pai vai ser o mesmo porque eu registrei a criança, então não muda nada na minha vida.
Bruno admitiu novamente saber da morte da amante e ainda garantiu que ele e o amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, não tinham um relacionamento homossexual.
— O Macarrão, primeiro que não tem nada desse negocio de gay. Isso veio de um antigo patrono não sei de onde ele tirou essa ideia. Mas o Luiz [Macarrão], a própria mãe dele me chamava de filho, frequentei muito a casa dele desde muito novo, jovens. Ele me ajudou bastante na minha infância. Uma pessoa guerreira que veio de baixo assim como eu. Nós crescemos juntos e quando eu cheguei no auge, eu sempre falei pra ele, “olha quando eu chegar lá em cima eu vou te buscar, você vai ficar comigo pro que der e vier”.
Dois anos depois do crime, no julgamento, Macarrão apontou o melhor amigo como o mandante do assassinato de Eliza. Bruno se defende.
— Nunca passou pela minha cabeça de mandar matar a Eliza, jamais. Isso não. […] Uma vez, uma das pessoas que eu mais amo na vida, que é minha mãe, hoje com 83 anos, uma senhorinha, tive uma audiência no Fórum de Contagem e ela falou: filho, fala a verdade. Filho, fala pra mim a verdade. Falei: “mãe, eu não mandei matar a Eliza”.
Vida na cadeia
Após tentar se matar na penitenciária, agora o ex-goleiro se dedica a trabalhar e a pensar no futuro. A ligação com o futebol continuou, mas de outra forma.
— Eu gosto tanto de futebol que hoje eu costuro bola. Eu costuro bola, eu faço artesanato, se tem alguma coisa pra ser feita, igual tem um projeto aí de uma vassoura, eu faço a vassoura, também, não tem problema. Eu não tenho vergonha nenhuma, eu já trabalhei na faxina, eu já trabalhei na lavanderia. Tendo a oportunidade de trabalho, eu trabalho.
Ele conta que após a tentativa de suicídio parou para refletir.
— Depois disso, parei e falei, “poxa, não, eu vou dar a volta por cima, eu vou recuperar a autoestima”. […] Hoje eu posso pensar num futuro melhor pensar em um recomeço. Porque dizem que todo começo e recomeço é difícil. Eu concordo, é muito difícil. Meu começo não foi fácil, mas o recomeço, ele é melhor do que o começo, porque o recomeço você sabe onde você vai pisar, você sabe quem você vai colocar na sua casa, você vai dar valor e amar a sua família, amar a Deus.
Sobre a volta ao futebol, o homem que já foi ídolo de toda uma torcida diz que vai lutar pela paixão que tem.
— Se por acaso isso não acontecer, eu não vou me abater, mas vou continuar lutando, batalhando, no meio do futebol. Eu acho que eu tenho capacidade pra isso. Eu gosto disso, eu respiro futebol. Eu gosto de sentir aquele calor, aquela emoção, é o que move nosso País. […] Eu vou dar a volta por cima. Eu acredito nisso. R7