Polícia

Grito de socorro: 200 mil ligam por dia para o CVV com intenções suicidas

dddO dia mundial de prevenção ao suicídio acontece nesta quinta-feira (10), e junto a ele chegam os pedidos de socorro silenciosos. Causado por diversas doenças psicológicas e psiquiátricas, e muitas vezes esquecido e escondido pela sociedade em geral, ele acontece a cada 40 segundos em algum lugar do mundo e é uma das principais causas de morte do ser humano.

Apesar da impressão de que tem aumentado nos últimos anos, de acordo com o psiquiatra Dr. Antônio Carlos de Carvalho Reiners, o suicídio sempre esteve presente na história. No entanto, antigamente os diagnósticos não eram bem feitos, e muitos casos não chegavam ao conhecimento da mídia e da população em geral.

Para a psicóloga Mayara de Arruda e Silva, a questão é atual: “Vivemos em uma sociedade que cultua desde muito cedo a ideia de sucesso e a felicidade na vida e parece haver um modelo ideal para tudo isso; estudar muito, se formar, ter sucesso profissional, constituir uma família, ter um bom poder aquisitivo etc. Então a pessoa ouve muito criança que tem essa “obrigação” de ser feliz e passa a olhar os erros e frustrações com vergonha e consequentemente com tristeza. E como ser triste em um lugar que não lhe é permitido tal coisa?”

Essa tristeza, frustração e vergonha pode levar a uma das doenças que mais mata na atualidade: a depressão. Atualmente são 350 milhões de pessoas com depressão no mundo, e esta não é a única doença que pode levar ao ponto de tirar a própria vida.

Dr. Antônio Carlos conta que doenças como transtornos afetivos bipolares podem levar à morte: “No transtorno bipolar, o que acontece é que a pessoa fica em estado de euforia, achando que pode tudo, e aí quando ela toma remédio e volta à realidade, fica difícil de encará-la”, explica o psiquiatra.

Mayara ainda acrescenta outras patologias perigosas, como a esquizofrenia e o alcoolismo, mas lembra que o mais importante é falar sobre os comportamentos que agravam a situação: “Há um grande leque de possibilidades que podem influenciar, a questão é estar atento e aberto ao diálogo com a pessoa, pois cada um se expressa de uma forma diferente”.

O CVV

A presença da família e o apoio são essenciais. Mais que isso, é necessário quebrar o tabu e falar sobre o assunto. Em entrevista ao Olhar Conceito, o presidente nacional do CVV (Centro de Valorização da Vida), Robert Paris, afirmou que a organização atende, por dia, de 150 a 200 mil pessoas que tem a intenção de se matar:

“Nós sabemos da eficiência do trabalho do CVV principalmente porque recebemos as respostas. Em datas comemorativas como natal e ano novo, quando os plantões aumentam, muita gente liga e fala que só está viva ainda por causa da conversa que teve conosco”, afirma.

Segundo o presidente, por ano são um milhão de ligações e 40 mil atendimentos via chat. O CVV ainda disponibiliza a conversa por voip (como se fosse um skype, somente com voz), por email e por cartas (estas, principalmente para os reeducandos do sistema prisional).

Apesar de o telefone ainda ser o principal meio de comunicação, a comunicação via chat vem crescendo exponencialmente, assim como o número de jovens que tem intenção de se matar: “70% das pessoas que conversam via chat tem até 30 anos de idade, e 40% deles comunica a intenção suicida”, afirma Robert. Nas ligações, são 5% que falam desta intenção.

O aumento do número de jovens com distúrbios psiquiátricos é uma realidade. De acordo com um estudo apresentado pelo Núcleo de Intervenção em Crise e Prevenção do Suicídio do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de Brasília (UnB) em agosto de 2006, pelo menos 1/3 dos jovens brasileiros já pensaram em se matar e um em cada 10 já fez uma tentativa.

Outra parcela vulnerável são os homens. A psicóloga Mayara afirma que eles têm as maiores porcentagens de casos suicidas: “Acredito que todo o preconceito ao redor da depressão como a ideia de que “é frescura” somado a uma ideia muito forte de que “homem não pode demonstrar fraqueza” faz com que essa população procure menos ajuda, justificando assim a maior porcentagem”, afirma.

Apesar do crescimento, Robert afirma que os idosos ainda são os que mais se suicidam. Como não há explicação, é difícil achar uma resposta para o porquê da morte, mas muitos idosos praticam o que chamado ‘suicídio passivo’, como explica o psiquiatra Antônio Carlos:

“Principalmente quando perdem algum companheiro com quem viveram muitos anos, ou quando não vêem mais razão para viver. Eles vão parando de comer, até ficarem fracos e pegarem alguma infecção”, conta.

Olhardireto

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