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Internet chega à maioria das aldeias indígenas de MT

miniaturaA internet, via cabo, satélite ou rádio, já chegou em mais da metade das aldeias indígenas de Mato Grosso, onde vivem 33 povos identificados.

Uma das aldeias, a Kravari, do povo Manoki, no município de Brasnorte, é atendida pelo Ponto de Cultura, programa federal que promove o estímulo a iniciativas culturais por meio de convênios. Neste caso, a internet chega via rádio.

No Estado, a ação é coordenada pela Secretaria de Cultura e a responsável, Cinthia Mattos, assegura que o acesso à internet é muito importante, porque o mundo está virtualizado e qualquer cidadão vai sentir essa urgência de navegar na web. “Se nós usamos, porque eles não podem também?” – questiona.

Além da internet, o convênio inclui compra de material multimídia, como câmera fotográfica e filmadora. Segundo ela, os indígenas têm demonstrado interesse em registrar a própria história. “Para isso precisam estar antenados e muitos deles estão”, assegura Cinthia.

O convênio do Ponto de Cultura, assinado com a Associação Watoholi, tem duração de três anos e é um dos 40 sacramentados em Mato Grosso.

“Os indígenas utilizam internet para se comunicar entre si, porque em várias aldeias já têm, usam e-mail, procuram editais que possam favorecê-los, olham notícias e outros sites”, comenta a coordenadora. “Vários deles têm celular e notebooks e dão muito valor à comunicação, porque vivem em áreas distantes, geralmente.”

No orelhão da aldeia Kravari, o indígena Edivaldo Lourival Manpuche, de 27 anos, atende o Terra e explica que na aldeia, a internet é muito usada por professores, que querem fazer pesquisa, para dar uma aula melhor. “Muitos jovens também têm Facebook, mas o pessoal de 30 a 40 anos também curte”, afirma.

Segundo ele, acesso à tecnologia é uma necessidade indígena no mundo atual, incluindo internet, celular, televisão, máquina fotográfica, filmadora e tudo mais que surgir de novidade.

“Os mais velhos têm resistência, porque assim muda a forma de registrar a história e a relação disso com a morte, mas os mais novos gostam muito e acham importante”, observa. “Me passa seu e-mail, que passo mais informações sobre nossa aldeia e nossos costumes”, oferece Edivaldo. Segundo ele, um raio queimou um equipamento pela segunda vez na torre do rádio e por isso a internet caiu, para desespero dos adeptos da web.

O engenheiro Rodrigo Coimbra Egufo, coordenador regional substituto da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Mato Grosso, assegura que se apropriar de tecnologias não significa perder o traço cultural. Segundo ele, em todos os 30 territórios indígenas que ficam na região de Cuiabá já é possível navegar na web.

A Secretaria de Estado de Educação (Seduc), atendendo à solicitação dos próprios indígenas, também inseriu a internet em 42 escolas estaduais localizadas em aldeias. O bororo Félix Rondon Adugo Eanu, coordenador da Educação Escolar Indígena pela Seduc, assegura que esta é uma demanda irremediável para todos.

“Sim, queremos internet e outras tecnologias. Antes o acesso às aldeias era bem mais difícil e agora o pessoal abandonou o velho rádio amador, porque era muito mais complicado achar a frequência nele, tinha que ter horário específico. Hoje em dia, mandam um e-mail e a gente consegue conversar muito melhor e mais rápido. Hoje inclusive esse sistema está sendo utilizado no combate a incêndio florestal. Os indígenas são parceiros contra essa prática e comunicam, via e-mail, ao Ibama e à Funai quando verificam que tem foco de fogo e a brigada atua.”

Sobre o risco dos indígenas perderem o traço cultural, Félix assegura que a vida de todos nós é dinâmica. Segundo ele, tudo que é novidade gera implicações e questionamentos. “Internet e demais tecnologias são apenas ferramentas de trabalho. Cuidado com esse senso comum que vê relação disso com aculturação, porque quem vai dizer que no sentimento deles eles não pertencem mais a um povo indígena, só porque acessam a internet? Um indígena que usa celular não é mais indígena? Muitos estão na universidade. Na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) já são 97 alunos indígenas. E eles falam: podemos acessar tudo que vocês acessam sem deixar de ser o que somos.”

Félix diz ainda que o acesso à internet é um direito de todo brasileiro, dentro da lógica da inclusão digital.

 

 

Terra

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