Opinião

O que Mato Grosso pode oferecer ao Brasil?

mahonA plataforma do PSDB foi desconstruída pela ideologia petista que, há mais de 10 anos, promove inconsistentes comparações financeiras para desacreditar o governo reformista de Fernando Henrique Cardoso. Demonizado como elitista, em favor de uma nova proposta populista e consumista, o ex-presidente resistiu com serenidade às investidas que pretenderam demolir a imagem do homem público de estatura suficiente para acabar com a inflação responsável por comprometer o crescimento nacional. A desmemória popular fez esquecer não só a revolução na gestão nacional, como o desprezo petista pela Constituição de 1988 e pelo Plano Real, dois fundamentos democráticos que sofreram forte oposição petista. Em Mato Grosso, a figura emblemática de Dante Martins de Oliveira, o mato-grossense com maior projeção popular desde Cândido Mariano da Silva Rondon, foi sistematicamente atacada pela mesma lógica petista: privatista, elitista e financista, uma injustiça histórica pronta a ser reparada.

A renovação na população eleitora fez com que algumas reformas fossem solenemente esquecidas. Uma parcela ínfima da juventude que cresceu sob a sombra de um Brasil irreal não sabe o que era o drama familiar em pleno supermercado, vendo o salário perdido na corrida da remarcação. A taxa de juros acumulados em 1990 foi de 1.782,9%; em 1991, foi de 1.476,56%; em 1992, foi de 480,2%; em 1993, foi de 1158%; em 1994, foi de 2.760,6%. Somente no ano de 1995, durante o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, é que a inflação foi finalmente controlada, batendo na casa de 14,7%, 9,3% no ano seguinte e, depois, percebeu-se um decréscimo até a margem de 1,7% no ano de 1998. A ênfase nas conquistas posteriores é covarde: como haveria o crescimento sem as reservas vindas da estabilização?

Outro elemento basilar para o desenvolvimento nacional foi resolver a crise energética. O governo Dante Martins de Oliveira lançou raízes para que o Estado de Mato Grosso, então deficitário no setor, não só equilibrasse a oferta com a demanda, como exportasse energia para outras unidades federadas. A única lembrança sobre o tema, no curso da governança tucana, é o apagão em função das margens mínimas de água, fenômeno parecido com o que ocorre atualmente. A sazonalidade pluviométrica só comprova que o Brasil não tem planejamento a longo prazo para estabelecer reservas adequadas de água potável, o que não é um problema exclusivo de governo do PSDB ou do PT. Lembremos, também, o atraso brasileiro em termos de tecnologia de comunicação, até que o governo FHC resolve ofertar o serviço às empresas particulares nacionais e internacionais, promovendo uma das maiores revoluções em comunicação de massa em oito anos.

Foi muito triste para os mato-grossenses sentir a desconstrução da figura icônica de Dante Martins de Oliveira. Perdemos uma referência em liderança, em nome do reformismo inconsistente do petismo e do discurso de eficiência do setor do agronegócio. Arrogantes, imaginaram que iriam inventar a roda, cercando-se de burocratas pouco afetos ao jogo democrático, gerando deformações no segundo e terceiro escalão que até hoje rendem as manchetes nas colunas policiais. A lógica mato-grossense do consenso e do diálogo cedeu espaço ao “faço porque posso”, típico dos novos ricos de botina. O fato de que a exportação brasileira está calcada na produção agrícola fez crer na legitimidade natural do setor no domínio político do cenário regional, o que é um erro de perspectiva e de palco para os megaempresários que pretendiam uma mudança no curto prazo (que acabou não vindo nem mesmo no governo deles mesmos).

O petismo frustrou o Brasil. Da pior maneira. Navegando em céu de brigadeiro, sem passar por crises internacionais, com bases econômicas sólidas, feitas as reformas estatais e sob a Lei de Responsabilidade Fiscal, os petistas abriram mão dos investimentos indispensáveis em infraestrutura em favor do consumo, distribuindo renda de forma fictícia. A sensação de poder de compra que perdurou por muitos anos, retirando da pobreza milhões de brasileiros pela força da subvenção direta, distorceu gravemente os modelos de assistência social de Dona Ruth Cardoso. Essa bolha formada pelo crédito iria explodir em algum momento, considerando ainda os lançamentos falsos do governo petista, baseados no futuro e incerto crescimento de receita.

Pior do que não avançar, é retroceder. O PT perde legitimidade popular, não pela ação da oposição (que foi muito mais equilibrada do que a sofrida), e sim pela verdade desnudada ao povo da pior forma – acabou o crédito, a festa do câmbio desvalorizado e o sonho do dinheiro fácil. Esse desgaste nacional que só se experimentou com Collor propicia enxergarmos o passado na perspectiva correta. O que subsiste é o crescimento autossustentável, com aporte em infraestrutura, controle financeiro, responsabilidade fiscal, estímulo à exportação, câmbio livre, contenção da bolha previdenciária e monitoramento da industrialização nacional. Quem sabe Mato Grosso apresente ao Brasil mais do que gado, soja, milho e algodão… Talvez possamos criar um modelo que una os valores de um Estado pujante às lideranças rejuvenescidas e mais responsáveis.

* EDUARDO MAHON é advogado

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *