PF deflagra operação contra policiais e vereador em Lacerda
A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (6) a Operação Corrida do Ouro, para desarticular uma suposta organização criminosa especializada na extração e comércio de ouro no garimpo ilegal localizado no município de Pontes e Lacerda (457 km a Oeste de Cuiabá).
A acão conta com apoio da Polícia Judiciária Civil e da Polícia Militar de Mato Grosso.
Conforme a PF, estão sendo cumpridos 10 mandados de prisão, 30 mandados de busca e apreensão e 05 mandados de condução coercitiva nos municípios de Pontes e Lacerda, Cáceres e Cuiabá.
A Polícia Federal relatou que a suposta organização criminosa seria integrada por policiais civis da ativa, um oficial da Polícia Militar da reserva e um vereador, entre outros. Eles seriam responsáveis pelo comando das atividades ilícitas realizadas no garimpo. Os nomes dos suspeitos não foram revelados.
Segundo a PF, os agentes públicos utilizavam-se da qualidade de policiais para manter o domínio das atividades ilícitas no garimpo, através de todo tipo de intimidação, inclusive com o uso de armas de fogo contra pessoas que eventualmente contrariassem seus interesses.
Eles seriam vistos com frequência por garimpeiros da região, circulando armados pelo garimpo. Existiriam no garimpo os chamados “buracos da polícia”, locais de extração de ouro dominados pelos policiais.
Todos os agentes públicos envolvidos são bastante conhecidos pela população local, muitos deles lotados na Delegacia de Polícia Civil em Pontes e Lacerda e região. Ainda segundo a PF, eles estabeleceram a “lei do silêncio” no garimpo, criando enormes dificuldades à investigação.
Os investigadores dizem ter obtido provas que resultaram na decretação da prisão preventiva, expedição de mandados de busca e apreensão e conduções coercitivas em diversos endereços dos suspeitos, bloqueio de contas e afastamento cautelar das funções públicas, este último aplicado especificamente aos policiais da ativa.
Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal em Cáceres.
Os criminosos responderão pelos crimes de organização criminosa, extração e comércio de matéria-prima pertencentes à União sem autorização legal e execução de lavra ou extração de recursos minerais sem autorização.
As penas máximas dos crimes somadas podem chegar a 20 anos de prisão.
Investigações (Atualizada às 11h45)
Em entrevista coletiva em Cáceres, o delegado que comanda a operação, Ronald da Silva de Miranda, afirmou que a operação desta sexta-feira (06) ainda não é para fechar o garimpo, que continuará ativo.
“A data da desintrusão, quando é feita a retirada do material usado para a lavra, ainda está sob sigilo”, afirma Miranda. “A operação de hoje foi voltada para combater a venda ilegal do minério e atuação de agente públicos nessa atividade, bem como o crime ambiental de destruição da região”.
A quantidade de ouro comercializada no garimpo não foi confirmada pela PF. “Existem muitos boatos, alguns indicam que foram retirados até 30 quilos de ouro (algo como R$ 130 mil na cotação atual do ouro) em alguns pontos de extração”, mas o número certo só saberemos quando os mandados forem cumpridos, até o final da tarde de hoje.
A atuação da PF desarticulou o principal grupo que comandava o garimpo, porém há indícios de outras associações criminosas atuando em Pontes e Lacerda.
“A extorsão aos garimpeiros ocorria de diversas maneiras. Era cobrado até R$100 pelo estacionamento e o grupo também controlava a venda de alimentos e a prostituição ilegal. Os garimpeiros também pagavam uma porcentagem de cerca de 25% durante a venda do minério”.
O PF acredita que possa haver a participação dos proprietários de terras na região do garimpo ilegal. “A área é muito grande, por isso todos, pessoas privadas e empresas, que possuem propriedades particulares são passíveis de investigação”.
Segundo a PF, até 8 mil pessoas passaram pelo garimpo. Hoje não há mais do que 500 garimpeiros. “O problema desses números é que a área é muito grande e muitos garimpeiros estão cavando dentro de túneis”, explica o delegado.
O fechamento do garimpo deve ocorrer com a participação da Força Nacional de Segurança.
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