Traficantes se modernizam e número de bocas pode passar das 7 mil em Cuiabá e Várzea Grande
Na linguagem dos marginais os pontos de drogas, conhecidas por “Boca de fumo”, com o passar do tempo, sofreu por um processo de “modernização”. Venda de “pó” pela Internete via aplicativos em código. A exemplo, a nova modalidade das “Bocas Delivery” e agora, surgiram as vendas à céu aberto pelos traficantes que ainda usam olheiros, seguranças, compradores, entregadores e gerentes, que vendem drogas em qualquer lugar, até no meio da rua.
A ousadia é tanta, que muitos vendem entorpecentes debaixo dos olhos de policiais, desafiando a tudo e a todos. As bocas responsáveis pelas vendas e abastecimento de drogas, segundo levantamento da reportagem do 24 Horas News dobraram nos últimos anos. Enquanto o tráfico cresce, a Polícia perde seu poder de “fogo”.
Se ontem eram mais de duas mil bocas apenas em Cuiabá, hoje, já são mais de três mil e oitocentos locais onde os “clientes” podem se abastecer com a certeza de que não serão incomodados. Um crescimento de quase 200%. Em Várzea Grande, à venda de drogas em bocas e pontos fixos ou móveis pode ser igual ou maior do que em Cuiabá.
Enquanto os Governos Federal, Estadual e Municipal jogam bilhões e mais bilhões de reais fora todos os anos com a intenção de alertar e conscientizar sobre o uso de drogas e álcool, principalmente os jovens, mais de 99% deles não estão nem ai para as propagandas, e continuam entrando de cabeça e de cara limpa no submundo da droga e do álcool. Resultado: sepultura ou prisão.
Com a certeza absoluta da carência da Polícia e de policiais nas ruas, os traficantes de Cuiabá e em Várzea Grande, adotaram dois novos sistemas, que por sinal está dando certo. O cara liga, faz a encomenda, passa pelo local e pega os “embrulhinhos” como se estivessem pegando algum tipo de alimentação.
Também existe o mesmo sistema do “cliente” ligar, fazer a encomenda e pedir para entregar. Como se fosse uma pizza, o entregador vai de moto levar a droga até a casa, em festas, na boates. Ou seja, em qualquer lugar.
Uma das mais recentes inovações do tráfico é a entrega no meio da rua, na frente de quem quer que seja. O “boqueiro” – gerente ou dono da boca – ou seus funcionários recebem uma ligação de encomenda. Só que, no novo sistema a droga não vai ser mandada, muito menos o “cliente” vem pegar na boca.
Boqueiro e clientes combinam a entrega para dois quilômetros distantes da boca. Lá vai estar uma pessoa descrita no telefone com a encomenda dentro de uma sacola. É só passar, pagar e pegar. Um exemplo, a boca na rua tal onde muitas vezes existem outras bocas, todas conhecidas da Polícia, mas a encomenda será entregue em uma rua neutra, onde não existe boca e a Polícia nem desconfia.
Em alguns casos os traficantes não estão nem ai. Muito não entregam mais a droga na frente da boca, mas sim a 100 metros dali. E olha que as bocas hoje em dia não estão somente nos bairro da periferia. Existem dezenas, centenas de bocas dentro de bairro nobres, cujos donos são pessoas de classe média alta.
Muitas vezes locais conhecidos da Polícia, cujas viaturas, segundo moradores, passam bem em frente. “Poxa, dias atrás os meninos estavam entregando droga bem em baixo de um pé de árvore na calçada em frente a uma casa. Uma viatura passou e não viu, ou fez que não viu nada”, afirma uma moradora do bairro Pedregal. Isso é um absurdo, mas a gente é obrigada a calar a boca literalmente para não ser a próxima vítima.
AS MIGRAÇÕES – A reportagem também constatou que as bocas e os traficantes quando são incomodados pela Polícia ou por moradores, matam os moradores ou migram de um bairro para o outro com a maior facilidade, nas “barbas” da Polícia.
As migrações também acontecem, segundo apurou a reportagem, principalmente quando um traficante é preso. “Quando acontece da prisão do chefe, um parente dele assume a chefia, na maioria dos casos as bocas são transferidas para outro bairro, até que o caso caia no esquecimento”, comenta um policial.
EXECUÇÕES ENCOMENDADAS – Quem compra droga fiado e não paga está à beira da morte. Em Cuiabá e Várzea Grande, dos mais de 300 assassinatos registrados de janeiro a julho deste ano, mais de 80% das vítimas estavam envolvidas em algum tipo de crime, a maioria uso e tráfico de drogas.
As execuções acontecem, quando um usuário compra droga fiado para revender, usa mais do que vende e não paga tudo, Compra de novo a vai acumulando dívida. Até dentro do submundo do crime existe uma máxima: ou anda na linha como bandido correto, ou morre, simples assim.
Hoje, em pleno Século 21, a reportagem também descobriu uma novidade dentro do submundo do pó. Muitos traficantes que começaram como usuários e se derem “bem”, hoje já não usam mais droga. Muitos também vendem, mas não usam e nunca droga. Pois todos são conscientes que quem fomenta o tráfico de drogas, e por consequência a violência e as mortes, são os usuários.
Enquandto os traficantes usam estragécas antigas, mas ao mesmo tempo bem modernas, a Piolícia perde seu poder de fogo a cada ano. São péssimos salário. Falta de efetivo, corrupção, perseguição interna, desmotivação e tantos outros problemas. “A gente vai para a rua e não sabe se volta. E se volta vivo porque matou bandido tem que explicar mil coisas. Muitas vezes a gente ainda vai preso. Os bandidos estão levando vantagem por causa do sucateamento e das perseguições internas dentro da própria Polícia”, desabafa um policial que pediu para não ser identificado.
24horasnews