Ferrovia para o Pacífico
Sem derrubar um pé de pau, usando terras degradadas, o Estado de MT pode vender muita comida para a Ásia
A China pode construir uma ferrovia para o Pacífico. Sairia de trechos já existentes no Brasil desde o Atlântico, daí ser Transoceânica.
Aqui mais perto, ela viria de Goiás para Lucas do Rio Verde. Dali para Rondônia-Acre-Peru e a portos do Pacifico.
Seu custo varia de 4.5 bilhões de dólares a 10 bilhões ou 30 bilhões de reais. Por que a diferença? É o custo para contornar ameaças ao meio ambiente.
Não esquecer que ela cortaria terras amazônicas e a Cordilheira dos Andes.
Se a coisa complicar, tem outro caminho pelos desertos do sul do Peru mas, no caso, a Bolívia deveria participar também. Hoje, seria só Brasil-Peru.
O primeiro-ministro da China, Li Keqiang, estará no Brasil esta semana e talvez dê a grande notícia. Se ocorrer, MT passará a ser um dos estados mais importantes do Brasil.
Dizem entendidos em logística de transporte que é economicamente viável o transporte por carretas para uma ferrovia até uma distância de 500 km. “Se a ferrovia vier, agora é que seria hora também de se buscar meios de explorar minérios que o Estado também possui. “
Ou seja, 500 km ao redor de Lucas seria lugar para se produzir grãos, fibras, carnes e o escambou para exportar para a China, outros países asiáticos e até para a Costa Oeste dos EUA pelo porto no Peru.
O ganho no transporte de grãos seria de 30 dólares por tonelada. Hoje, para ir à China, se vai a Santos ou ao Pará.
Leva-se algo como 30 dias de navio até a China. Pelo Peru se levaria os mesmos 30 dias, mas a grande vantagem de MT seria o transporte até o porto no Peru por ferrovia. Hoje é por carreta e numa distância enorme.
A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) teve um encontro com o governo chinês em Pequim em janeiro deste ano.
Os chineses informaram que investirão na América Latina, em dez anos, 250 bilhões de dólares, principalmente em infraestrutura.
O que são 10 bilhões de dólares, custo máximo da ferrovia, naquela montanha de 250 bilhões? E numa ferrovia que ‘mudaria o mapa do sistema logístico mundial’, escreveu alguém.
Os EUA, com a simbólica aproximação com Cuba, quer voltar à região? Que se estabeleça a competição China-EUA na América Latina, oras.
Naquele encontro se decidiu aumentar o comércio em ambas as direções, hoje em 250 bilhões de dólares por ano, para 500 bilhões em dez anos.
Entre 2001-2013, a região saiu de uma exportação para a China de commodities de 2.3 bilhões de dólares para mais de 62 bilhões. Da China para cá saltou de sete bilhões de dólares para 130 bilhões.
Volta-se a MT. Sem derrubar um pé de pau, usando terras degradadas, o estado pode vender muita comida para a Ásia.
Com a ferrovia, parte da matéria-prima do estado seria aqui industrializada para exportar para aquele lugar do mundo. A ZPE pode ajudar nisso.
Se a ferrovia vier, agora é que seria hora também de se buscar meios de explorar minérios que o Estado também possui.
ALFREDO DA MOTA MENEZES é historiador e articulista político em Cuiabá.