Opinião

Maior prova de vinhos do Brasil escolhe os 20 melhores rótulos nacionais

 

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Vinhedo no Rio Grande do Sul: plantio de uvas no Brasil não chega a 25% da área destinada ao cultivo na Argentina e no Chile<br /><br />
Foto: Divulgação
Vinhedo no Rio Grande do Sul: plantio de uvas no Brasil não chega a 25% da área destinada ao cultivo na Argentina e no Chile Divulgação

RIO – O tão aguardado resultado da maior prova de vinhos brasileiros já feita no país (856 rótulos de 108 vinícolas de sete estados brasileiros) será divulgado nesta quarta-feira à tarde, na Expovinis, em São Paulo, e deverá espocar mais alto do que uma rolha de espumante nacional, claro. É que a terceira edição do Anuário Vinhos do Brasil, uma publicação da Editora Baco e o Ibravin Instituto Brasileiro do Vinho), lista os 20 melhores vinhos nacionais segundo a avaliação de 12 especialistas (entre eles, Deise Novakoski, do GLOBO). E, sem querer estragar a festa de ninguém, conseguimos a lista dos vencedores, que divulgamos em primeira mão.

Melhor pinot noir? O da RAR, Serra Gaúcha, uma das parcerias da Vinícola Miolo, que mereceu 86 pontos. Espumantes? Foram muitos. O Cave Geisse, vinícola do município de Pinto Bandeira, Rio Grande do Sul, levou dois títulos: o de melhor espumante brut, com o exemplar de 1998 e o o melhor nature, da safra 2001.

Mas há gratíssimas surpresas. O cabernet sauvignon da pequena Moça Faceira, da Vinícola da Figueira, em Florianópolis, foi eleito o melhor exemplar da casta do ranking, com 90 de pontuação, deixando para trás pesos-pesados como a Dal Pizzol, Aurora… Moça Faceira é um vinho de garagem mesmo, ao pé da letra: é feito na garagem da casa do produtor, Rogério Gomes, que vinifica uvas de vindas de grandes altitude, como dos arredores de São Joaquim.

E não foi o único exemplar a surpreender na avaliação. Na categoria merlot, a renomada vinícola Pizzato, do Vale dos Vinhedos, aparece dividindo o o título de melhor da casta com a Casa Geraldo, uma pequena vinícola em Andradas, em Minas Gerais. É tocada por imigrantes italianos, que há 30 anos plantaram as primeira vinhas nessa região que não tinha qualquer tradição na produção de vinhos. Isso é passado. Os dois exemplares de merlot nacionais ganharam 90 de pontuação. Mas foi o marselan da vinícola gaúcha Cainelli quem levou a nota mais alta: 92 pontos

Além do número recorde de vinhos inscritos (o dobro do ano passado), o que mais impressionou Marcelo Copello, 20 anos de vivência no ramo, foi a qualidade dos vinhos concorrentes.

— Tivemos 427 vinhos com média de 84 pontos ou mais, o que significa que praticamente todas as vinícolas que passaram pela nossa avaliação apresentaram algum vinho de bom nível — elogia Copello.

País cultiva menos uvas que Argentina e Chile

O Anuário 2014 mostra ainda o quanto a viticultura brasileira está se expandindo nos ultimos anos. Hoje, há vinhedos fruticando e rendendo (bons) vinhos em estados como Goiás, Espirito Santo, São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso, Paraná, Vale do São Francisco e Minas Gerais (caso o merlot da Casa Geraldo).

No Brasil. são 45 mil hectares de áreas cultivadas com videiras. Só para situar, a Argentina conta com 218 mil e Chile, com 202 mil. Somos hoje o décimo no mundo em cultivo de uvas. O Rio Grande do Sul detém 90% da produção brasileira de vinhos, que ano passado chegou aos 57 milhões de litros e mais 64,8 milhões de litros de sucos de uvas naturais. A área cultivada no estado é de 41.076,33 hectares, sendo que 88% são de uvas americanas e híbridas para consumo in natura e sucos e 125 hectares de uvas viníferas.

O consumo de vinhos continua baixo no país: média de dois litros per capita por ano. Mesmo assim, importamos 72 milhões de litros de vinhos em 2013 majoritariamente do Chile, Argentina, Portugal, Itália e França. Nos últimos anos, Ibravin e produtores brasileiros têm investido forte no mercado internacional. Os vinhos brasileiros já estão presentes nos supermercados e lojas especializadas do Canadá, Reino Unido, Alemanha, Finlândia, Holanda, Colômbia, Paraguai, China e Japão.

A pequena Lidio Carraro, em Bento Gonçalves, que assina a linha Faces, que é o vinho oficial da Copa do Mundo, está com a sua linha nas gôndolas da loja francesa Monoprix. E nem são os primeiros produtores de vinhos nacionais a cruzarem fonteiras: a Lidio Carraro, desde 2005 vende para 30 países da Europa. Seu merlot 2005 ganhou 93 pontos da especialista inglesa Jancis Robinson e elogios de Steve Spurrier, da revista inglesa “Decanter”.

Impostos chegam a 67% por garrafa

Os vinhos da Miolo são outros que estão mundo afora. Ano passado, passaram a ser vendidos em supermercados como o inglês Waitrose, e lojas como a Marks& Spencer, que arrematou um lote de 30 mil garrafas do tinto Alísios do Seival, produzido em Candiota, na fronteira com o Uruguai. Outros exemplares “made in Brazil” estão na mesma M&S, caso do espumante Bubbles Mocasto e do tinto Teroldogo da vinícola Salton, também da Serra Gaúcha.

— A diversidade de uvas é o nosso maior trunfo. A merlot é a uva emblemática do Brasil, mas, como somos novos, podemos experimentar — diz o enólogo Eduardo Valduga, terceira geração de produtores vinhos da Serra Gaúcha.

A colheita desse ano ficou na casa das 650 mil toneladas de uvas (20% menos do que o ano passado, por conta de granizos e geadas do inverno e o excesso de calor no verão). Quanto às cifras salgadas dos vinhos brasileiros (quando comparadas aos importados) o motivo independe deles: produtores pagam 67% de impostos por cada garrafa. Só para se ter uma ideia, no Uruguai não chega a 22% de taxas.

 

 

 

O Globo

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