Opinião

Ferrovia, uma velha história – 2

Em 1975, o deputado federal Vicente Vuolo mexeu com os cuiabanos ao levantar o assunto da ferrovia entre SP e Cuiabá

onofrePara Cuiabá, o assunto ferrovia é uma velha ferida. Quando em 1975 o deputado federal Vicente Vuolo levantou o assunto da ferrovia ligando Jales-SP a Cuiabá, mexeu nos brios cuiabanos, feridos no começo do século 20.

Na época havia outro projeto de ferrovia que deveria sair de Bauru-SP e vir até Cuiabá, previsto ainda durante o Império.

O Brasil saíra da guerra com o Paraguai (1864 a 1870), com a certeza de que sua fronteira a Oeste estava desguarnecida, dificilmente defensável.

Durante a guerra os paraguaios entraram e saíram do Brasil quantas vezes quiseram e, por fim, na retirada da Laguna, eles chegaram até perto da atual cidade de Campo Grande.

Por conta disso, o governo brasileiro decidiu mexer no projeto da ferrovia. Ela saiu de Bauru supostamente na direção de Cuiabá. Mas onde se situa Campo Grande à época inexistente, decidiu-se virá-la para o Oeste na direção de Corumbá.

Cortava-se a fronteira com o Paraguai até Corumbá. As desordens na fronteira Brasil-Paraguai eram muito grandes e os conflitos fundiários e indígenas pediam providências.

O Governo decidiu estender por ali a ferrovia como um estímulo à povoação a vasta área vazia ou ocupada por posseiros que desalojaram antigos fazendeiros de antes da guerra e promoviam ali um jaguncismo enorme. Ficou pronta em 1914 e chegou a Corumbá em 1952.

Em Cuiabá, o desvio da ferrovia foi considerado um ato político do governo federal, sob pressão dos coronéis da pecuária pantaneira sediados na nascente cidade de Campo Grande ou na histórica e importante Corumbá com seu importante porto fluvial.

A ferrovia permitiu que Campo Grande florescesse e se tornasse a cidade mais importante do Sul de Mato Grosso, no lugar de Corumbá. Campo Grande era só um acampamento onde fazendeiros paulistas paravam na estação do trem para entrarem no Pantanal onde compravam gado que seria engordado nas pastagens paulistas.

Aos poucos os fazendeiros pantaneiros formados por mineiros e paulistas usavam Campo Grande como mercado de venda do gado.

O eixo econômico e político do Sul de Mato Grosso desviou-se para Campo Grande e Cuiabá permaneceu refém dos rios Cuiabá e Paraguai para comunicar-se lentamente com o restante do país, ligada ao Rio de Janeiro.

Campo Grande se ligava a São Paulo. No futuro, a ferrovia interrompida entrou no dicionário das divergências que resultariam na separação das regiões Norte e Sul, e numa mal-querência entre vizinhos que ainda persiste. Os trilhos separaram Campo Grande e Cuiabá.

O assunto continua amanhã.

ONOFRE RIBEIRO é jornalista em Mato Grosso.
onoferibeiro@terra.com.br
www.onforeribeiro.com.br

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