Estudo explica por que dormir mal não aumenta o apetite, mas engorda
Pesquisa publicada nesta terça-feira nos Estados Unidos explica como uma noite de sono mal dormida afeta o cérebro e aumenta o apetite das pessoas. A descoberta ajuda a explicar a relação entre uma noite de pouco sono e a preferência por alimentos calóricos. O estudo foi realizado na Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, e ganhou as páginas da revista Nature Communications.
De acordo com o trabalho, a privação do sono tem um efeito duplo na mente no que diz respeito ao apetite. Um deles é estimular a resposta de uma parte do cérebro que administra a motivação de o indivíduo comer diante de um alimento gorduroso – ou seja, a reação diante da ingestão de uma batata frita ou hambúrguer é mais forte quando se dorme pouco e estimula a pessoa a comer mais. Ao mesmo tempo, a falta de sono reduz a atividade do córtex frontal, parte do cérebro responsável por medir as consequências de se consumir determinado alimento e por tomar decisões de forma racional.
Ou seja: o cérebro de uma pessoa que dormiu mal responde de forma mais intensa a alimentos não saudáveis e, para piorar, tem prejudicada a sua capacidade de rejeitar esse tipo de comida. A pesquisa mostrou que esse impacto no cérebro ocorre mesmo quando as pessoas se alimentaram e não estão com fome.
A fome não justifica — Outra descoberta do estudo americano foi a de que a privação do sono, na verdade, não faz com que uma pessoa sinta mais fome do que sentiria se tivesse dormido adequadamente. Essa conclusão contraria outras pesquisas que explicaram a relação entre a privação do sono e a obesidade a partir da teoria de que, ao dormir pouco, uma pessoa precisa repor as calorias que queimou durante o tempo em que ficou acordada.
“Isso é importante porque mostra que as mudanças no cérebro que observamos são causadas pela privação do sono em si, e não somente por um possível prejuízo ao metabolismo”, disse ao jornal The New York Times Matthew Walker, professor de psicologia e neurociência da Universidade da Califórnia em Berkeley e um dos autores do estudo.
Avaliação — Participaram deste estudo 23 homens e mulheres saudáveis. Em uma ocasião, eles puderam dormir cerca de oito horas em um noite e, depois, foram ao laboratório dos pesquisadores, onde tomaram um pequeno café-da-manhã, com torrada e geleia. A equipe mostrou a esses participantes 80 imagens de alimentos diferentes e pediram que eles avaliassem a vontade de comer cada item. Durante o teste, uma máquina de exame de imagem mediu a atividade cerebral dos participantes. Uma semana após esse experimento, os mesmos participantes passaram pelo mesmo teste. Porém, dessa vez eles ficaram acordados a noite toda e puderam comer biscoitos e frutas para repor a energia que gastaram durante e noite em que ficaram acordados.
A pesquisa mostrou que quanto mais sono as pessoas sentiam, mais elas preferiam alimentos calóricos e gordurosos, como doces e frituras. Segundo os resultados, passar uma noite sem dormir fez com que os participantes quisessem comer 600 calorias a mais, em média, do que quando dormiram adequadamente. Além disso, as imagens do cérebro dos participantes reveleram a ação dupla que os alimentos calóricos têm no cérebro de uma pessoa que não dormiu adequadamente.
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