Opinião

Escola não pode ser menos atraente que um game, diz pesquisador

forum-educacao-estacio-ronaldo-motaAulas que são verdadeiras sessões de torturas. Professores e gestores presos ainda a conteúdos clássicos e um sistema educacional, que vem de berço, que privilegia a dependência na hora de aprender. Tudo isso pode encontrar uma saída, de acordo com o professor Ronaldo Mota, ex-Secretário Nacional de Educação Superior e de Educação a Distância do MEC e que hoje atua no Instituto de Educação da Universidade de Londres. “Não dá para pensar em transformação educacional desacoplado da transformação de novas tecnologias” afirmou durante palestra no seminário das Faculdades Estácio, realizado nesta quarta-feira em um hotel da zona sul do Rio. “Educação não pode ser menos atraente para um jovem do que um game” disse.

O professor disse que é preciso estimular o lado de gestores, professores e alunos pelo uso das novas tecnologias. “Não dá para imaginar, hoje, professores que não saibam lidar com novas tecnologias e nem com tecnologias que estão por chegar. Acho impossível formar um bom profissional hoje sem que ele tenha sido submetido a lidar com competência com o que existe de mais avançado” afirmou, sem distinguir ensino à distância e presencial. E para ele não bastam campanhas que dotem os professores com tablets. “Tablet é um equipamento duro. O conteúdo é que importa. Ao estudante não basta ter acesso ao conteúdo. Ele precisa interagir, modificar, questionar, dar opinião, colaborar com outros colegar. Isso é barato, é factível. Alguns professores dizem que os estudantes não vão gostar. Mas estão equivocados. É disso que eles gostam. É colocar a educação em uma linguagem em todos os níveis”, afirmou Mota.

Para Ronaldo Mota os gestores educacionais e professores precisam ser ousados na hora de mudar e advoga pela ideia de lançaram portais interativos das disciplinas para que o estudante tenha acesso ao conteúdo antes mesmo de chegar à sala de aula. “Não existirá no futuro a figura do estudante que chega à sala de aula na total ignorância do vai ser falado. Alguns estudantes que não vão querer fazer isso, mas esses não terão acesso à sala de aula por não terem se preparado adequadamente. Consequemente, poderemos ter menos aulas, mas mais produtivas e mais interessantes”, disse.

E para ele, o Brasil, mesmo estando atrás de seus colegas de Brics, Russia e China, tem tudo para crescer nesse ponto, embora classifique nosso ensino médio com de baixa qualidade. “O Brasil tem 102 milhões de usuários de internet e não estamos colocando esse pessoal em contato com a educação. O Brasil é dos países mais afáveis com novas tecnologias: sistema bancário, eleitoral, acesso a portais. Fomos campeões de usar Orkut e podemos ser campeões de Facebook em pouco tempo. Tem uma juventude que gosta dessa qualidade e temos um conjunto de gestores e professores que repelem essa ideia. Que querem proibir Facebook, criar cultura anti-tecnológica e isso não funciona” afirma, dizendo entretanto que a tarefa do Brasil é gigantesca nesse ponto.

De acordo com o professor existem várias experiências, inclusive no Brasil, onde isso é feito de forma brilhante e eficiente. “O Brasil tem boas experiências mas em pequena escala. São coisas boas para pouca gente e em geral têm que se pagar. E quando faz coisas em grande escala, para quem não pode pagar, agrega má qualidade. A tecnologia pode mediar essa relação porque te permite trabalhar em grande escala com baixo custo e com muita qualidade,“ afirmou, citando como exemplo o portal educacional Veduca.

Como transformar a grande quantidade de informação, de forma rápida e gratuita a que se tem acesso nos dias atuais, em educação de qualidade, é para Ronaldo Mota o grande desafio da educação atual: “Mudar a forma de ensinar e aprender contamina os demais. O antigo analfabeto é aquele não sabia escrever. Hoje o analfabeto tem um monte de informações e não sabe o que fazer com aquilo. Informação é fundamental na formação acadêmica. O grande desafio é como criar pessoas que saibam o que fazer com tanta informação para o que mais lhe interessa” afirma, dizendo que o que o Brasil preciso apostar no ensino fundamental e médio. “Mas em geral nossos governantes são velhos e tradicionais e não gostam de tecnologia e educação.”

Terra

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