Casal tenta fuga da polícia, mas é preso em cidade de Goiás
O advogado e ex-vereador João Emanuel foi preso na manhã desta sexta-feira (26), com mais quatro pessoas, acusados de participarem de “uma farsa muito bem montada” para enganar agricultores, empresários da construção civil e de outros setores em Mato Grosso, no Paraná, Rio Grande do Sul e em Brasília. Na posição de vice-presidente do Soy Group, João Emanuel é apontado como um dos “cabeças” do esquema de estelionato.
De acordo com as investigações, a organização criminosa se propunha a intermediar empréstimos de grandes valores a juros baixos em bancos fora do país, recebendo em contrapartida adiantamentos e títulos de crédito. O esquema teria movimentado pelo menos R$ 500 milhões, em sedes em Cuiabá – de fachada – e Várzea Grande.
“Esse grupo oferecia às vítimas empréstimos a juros baixos vendendo fumaça aos clientes, que acabavam acreditando na conversa”, resumiu o delegado Flávio Stringueta, da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), em entrevista coletiva à imprensa logo após o cumprimento dos mandados de prisão e condução coercitiva expedidos pela Vara Especializada Contra o Crime Organizado da Comarca de Cuiabá.
O Soy Group já era uma segunda empresa montada, segundo Stringueta, exclusivamente para delinquir. A primeira, a ABC Share foi vedada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de continuar a atuar no mercado imobiliário.
A operação “Castelo de Areia”, desencadeada nesta sexta-feira, jogou a farsa por terra e há indícios de mais envolvidos, como informou o delegado Luiz Henrique, um dos que conduziram as investigações. Entre os envolvidos presos está o casal Shirlei Aparecida Matsucka e o marido dela Walter Dias Magalhães, sócios majoritários do Soy Group. Eles têm uma casa luxuosa em Chapada dos Guimarães, mas conseguiram fugir de madrugada da mansão, de carro. Foram detidos somente em Itaberaí, já em Goiás, e transferidos para Cuiabá ainda ontem.
Também foram presos Marcelo de Melo Costa, apontado como colaborador e agenciador do esquema e que já foi candidato a deputado federal, e Evandro José Goular, representante financeiro do grupo empresarial farsante. O irmão de João Emanuel, advogado Lázaro Roberto Moreira Lima, foi alvo de um mandado de condução coercitiva.
Quatro vítimas do esquema de João Emanuel já prestaram depoimento. Três ainda serão ouvidas. Mais outras duas registraram denúncia de última hora. A tendência, segundo a Polícia, é a de que surjam outras a partir da deflagração da operação.
Uma das vítimas foi justamente o empresário que mobiliou quatro salas do prédio usado pelo Soy Group na capital, próximo à avenida Historiador Rubens de Mendonça (do CPA), que é só fachada. Outra vítima contou, em depoimento à polícia, que os acusados de estelionato chegaram a levar um falso chinês – que seria negociador internacional -e que um intérprete traduziu o que estava sendo dito também em mandarim.
Essa vítima chegou a emitir 40 folhas de cheque, que juntas somam R$ 50 milhões. Uma farsa, que, conforme a polícia, expõe o nível de cinismo utilizado pelos comparsas.
O grande movimento do esquema ocorria na sede em Várzea Grande, onde era intensa a movimentação de carros de luxo e homens bem vestidos. Na sede em Várzea Grande, a polícia apreendeu duas BMWs, uma Cherokee e uma Amarok – caminhonetes de luxo.
Apreenderam também dois cheques no valor de R$ 99 mil cada um e um cheque de R$ 60 mil, além de documentos e armas usadas para defesa pessoal – nada que possa ser considerado um arsenal. O cofre, no entanto, estava vazio. “Vamos investigar se levaram quantias para outros lugares, se retiraram dinheiro de lá”, comentou o delegado Luiz Henrique.
Havia a informação de que funcionava um cassino no local, mas isso não ficou comprovado. O delegado considerou que o bando já estava desconfiado de que poderia ser alvo de uma operação, mas descartou que tenha ocorrido vazamento de informações sigilosas. Segundo os delegados houve antecipação da operação, para que novas vítimas não caíssem no esquema da organização.
NO HOSPITAL – João Emanuel, que passou por uma cirurgia de próstata na quinta-feira, está internado no Hospital Santa Rosa, onde recebeu a ordem de prisão. Escoltado, deve permanecer no hospital por no máximo mais 24 horas. Assim que tiver alta, será encaminhado ao Centro de Custódia de Cuiabá, anexo ao Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC), onde ficam presos com curso superior. Evandro também ficará no anexo ao CRC. Marcelo e Walter não têm nível superior e seguem para o CRC e Shirlei para a Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May.
João Emanuel já havia sido preso em 2013 investigado pela operação “Aprendiz”, por fraude em licitação e pela suspeita de liderar um esquema de grilagem de terras. A polícia explicou que o nome dessa operação se referia ao deputado estadual José Riva, ex-sogro dele e que também responde por desvio de verbas e outros crimes. João Emanuel teve o mandato cassado em abril de 2014 por quebra de decoro parlamentar.
As punições previstas em lei para crimes de estelionato e organização criminosa somam oito anos de reclusão.
OUTRO LADO – O advogado Lázaro disse que a prisão do irmão João Emanuel e a condução coercitiva imposta a ele o surpreendeu. Segundo ele, os dois faziam apenas assessoria jurídica para o Soy Group e desde dezembro se desligaram da função por falta de pagamento. “O João estava só advogando e aí, de repente, a gente é surpreendido como se ele fosse vice-presidente. Veja que absurdo, não procede de forma alguma”, reclamou.
Quanto à condução coercitiva contra ele, também disse que foi algo absurdo e que sofreu coerção moral no GCCO. “Um policial achou que eu estava olhando feio para ele e me levou para uma salinha, dizendo que eu ia aprender a não olhar feio para a polícia. Veja se pode isso, eu sou advogado”, ressaltou.
Na tarde desta sexta-feira, ele foi ao Fórum de Cuiabá pedir a reversão da prisão do irmão para domiciliar, alegando o problema de saúde dele e que teria total condição de responder às acusações que pesam contra ele em liberdade.
A Gazeta