Em carta, médicos denunciam mau atendimento a crianças
Documento fala de falta de pagamento e risco de morte em emergências
A falta de cirurgiões pediátricos no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC), denunciado pelo médico Osvaldo Mendes ao MidiaNews, no final de semana (leia mais AQUI), já havia sido denunciada no dia 27 de junho passado.
Numa carta assinada por 16 médicos que integram a equipe de pediatria do PS, cuja cópia o site teve acesso, os profissionais relatam que a suspensão das atividades prestadas pelos cirurgiões pediátricos na unidade – motivado pelo não pagamento de três meses de trabalho – coloca em risco a vida das crianças que são levadas até o local pelos pais.
“Colocamos que temos, todos os dias, crianças em estado grave que estão entrando no Pronto-Socorro, provenientes de nossas policlínicas e de cidades do interior, onde não existem cirurgiões pediátricos, necessitando de procedimentos cirúrgicos, sendo alguns de emergência, o que coloca em risco a vida dos nossos pacientes”, diz trecho do documento.
Na carta, os pediatras relatam que o número de cirurgiões pediátricos é muito pequeno – ao todo são 12, segundo relatou Osvaldo Mendes ao site, dos quais cinco estão em desvio de função –, e que a falta de pagamento estaria desmotivando os profissionais a seguirem na carreira, “colocando em risco tanto os pacientes da rede pública quanto da rede particular”.
“Estão sendo colocadas em risco as vidas de crianças que procuram este hospital (OS) pela falta de cirurgia pediátrica. Solicitamos providência urgentes para o pagamento e retorno da atividades dos cirurgiões pediátricos neste Pronto Socorro”, relata a carta.
“Pois, por mais que seja nosso desejo ajudar as crianças, certos procedimentos fogem de nossas responsabilidades técnicas, como drenagem de tórax em derrame pleural, pneumotórax hipertensivo, que exige conduta imediata com risco de morte para o paciente, dentre inúmeras outras condições clínicas”, diz o documento.
Além do Pronto-Socorro de Cuiabá, o outro local onde crianças que necessitarem de cirurgia podem contar com o serviço pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é a Santa Casa de Misericórdia.
O atendimento, porém, sofre restrições, uma vez que a instituição não atenderia casos de traumas, que necessitam dos serviços nas áreas de neurocirurgia e ortopedia.
“Sem contar que a Santa Casa é porta fechada e, ao preencherem as vagas nos leitos, não entram mais pacientes, ficando então a criança na sala verde infantil ou na sala amarela infantil, aguardando atendimento, ou aguardando a transferência. E este tempo de espera, muitas vezes, piora o prognóstico da criança quando consegue ser atendida pelo especialista”, diz a equipe de médicos.
Pedindo para que o pagamento seja realizado com urgência, a equipe deixa claro que há casos no Pronto-Socorro que fogem de suas responsabilidade técnicas, e que a ausência dos cirurgiões pediátricos está “colocando em risco a vida de crianças que aqui procuram este hospital”.
A carta foi enviada ao superintendente do PSMC, José Antônio Figueiredo; ao secretário municipal de Saúde, Werley Peres; ao diretor técnico do PS, Glen Carlo de Arruda; ao presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Gabriel Felsky; e ao Sindicato dos Médicos (Sindimed).
Outro lado
Ao MidiaNews, a Secretaria de Saúde reconheceu os débitos junto aos cirurgiões pediátricos contratados pelo Município, mas afirmou que se trata de dívidas de 2013.
A pasta informou que aguardava a autorização da Procuradoria-Geral do Município (PGM) para realizar o pagamento, que deverá ser feito ainda nesta segunda-feira (7).
A secretaria também disse que firmou um contrato com a mesma empresa, que foi vencedora do processo de licitação para oferecimento do serviço neste ano, na proporção de 16 cirurgias pediátricas por mês.