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Estudantes tomam bronca de policiais durante caçada a Pokémon em Cuiabá; Veja Vídeo

catando pokemonIndignados com os abusos sofridos pelo filho e um amigo durante uma abordagem policial, os professores universitários Imar Queiroz e Antônio Nascimento mobilizam esforços para denunciar a postura abusiva e sádica dos profissionais envolvidos no caso. Os jovens, O.Q.N e I.C.P, ambos de 19 anos, “procuravam” por Pokémons em frente a Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), da Polícia Civil, quando foram abordados na madrugada de terça-feira (9). Na ação, filmada por um dos policiais, eles foram obrigados a se deitar no chão, e na seqüência foram agredidos verbal e fisicamente.

Imar, que é professora na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e integra o Núcleo Interinstitucional de Estudos da Violência e da Cidadania (Nievici), conta que além dos xingamentos, os rapazes foram chutados pelos policiais, que chegaram a dar um tiro para o alto, a fim de assustá-los. Militante na área dos Direitos Humanos, ela falou ao Olhar Direto sobre o despreparo, o sadismo e a certeza da impunidade demonstrada pelos profissionais, que além de cometerem um crime, divulgaram os registros.

“Não se trata de uma revolta seletiva da classe média, de uma indignação só porque é com meu filho. Não importa quem seja, eles não poderiam agir assim, com crueldade, brutalidade. Mesmo se fosse um bandido, as pessoas tem direitos que asseguram a sua integridade, a dignidade humana. Eram dois jovens que não representavam perigo nenhum, o policial podia ter tido uma conversa de outra natureza, no entanto optaram por jogá-los no chão e colocá-los nessa posição vulnerável.”

As vítimas estavam em frente ao prédio em que O.Q.N mora com a mãe, e, de acordo com ela, desceram porque se sentiam protegidos pela proximidade com a delegacia de polícia. Além disso, os rapazes exerciam seus direitos previstos em constituição de ir e vir e não representavam, de acordo com os pais, nenhum tipo de ameaça que justifique a truculência do policial, que ao longo da ação expressou preconceito com a aparência do rapaz e homofobia. Na gravação um policial de chinelo grita palavras de baixo calão e pergunta se as vítimas “querem morrer.”

“Um profissional de Segurança Pública jamais pode abordar quem quer que seja dessa forma. Não precisa humilhar, ele poderia chamar, e orientar. A Polícia não é só repressiva, ela pode ser educativa. Ele estava na frente de casa e foi até lá porque se sentia protegido em frente a uma delegacia. Ele nunca imaginou que passaria por essa violência. Eu quero ter a certeza que quando meu filho estiver na rua ele será protegido pela Segurança Pública e não vítima dela.”

De acordo com Antônio, que atua na área de Fundamentos da Educação, também na UFMT, os garotos estão abalados e, por medo, não comentaram sobre o acontecido em um primeiro momento. No entanto, diante a repercussão do vídeo ambos decidiram contar aos responsáveis sobre a abordagem. O silêncio das vítimas, para ele, é produto da violência e pode ser observado em vários casos de abusos. O professor, que classifica os profissionais envolvidos como “delinqüentes”, ressalta a indignação e a perplexidade com qual tem encarado a ocasião.

“Não queremos que isso seja interpretado como uma lamúria de uma classe média incomodada e sim que ecoe como uma postura de alguém que pensa em uma outra sociedade, de pessoas que estão atentas a esse momento no qual nos encontramos, que não admitem essas formas fascistas que estão em curso.” Deste modo, seus esforços, na avaliação do professor, são para que a sociedade tome ciência e mais do que isso, que se mobilize contra forças autoritárias que avançam no país.

Eles lembram que é necessário que a sociedade também mude sua forma de valorar este tipo de atuação. “Se eles fizeram isso com aqueles dois meninos que estavam ali, imagina o que eles fazem com quem vive em áreas periféricas, onde a maioria das pessoas não tem acesso a informação, não sabe a quem recorrer. Os policiais deram azar que neste caso os envolvidos são pessoas informadas, que tem meios para buscar seus direitos. Mas e quem não tem?”

A mãe também chama atenção para o papel da Polícia em garantir a segurança da população diante de um novo fenômeno social, como o jogo. “Eles tem que entender que estamos vivendo um momento novo. Esse jogo deslocou uma camada da sociedade, que estava sentada, obsoleta, em frente a uma tela de computador, e de repente se vê agora circulando pelos parques da cidade, pela universidade e pelas ruas. Espaços que pertencem à população, que se encontra desprotegida. A gente sabe que eles lidam com situação difícieis e extremas. Isso você releva, mas nesse caso, o que pode justificar esse comportamento?”

Na noite de terça-feira, Antônio e Imar registraram um boletim de ocorrência contra a Polícia, e procurarão ainda hoje a Corregedoria da Polícia Civil para denunciar o caso. A assessoria de imprensa da instituição informou que a Corregedoria já tem conhecimento do vídeo e que irá analisar as circunstâncias em que a abordagem foi feita e os motivos para ter sido divulgada.Os profissionais envolvidos na ocorrência ainda não foram identificados.

Os pais do garoto também criticam a veiculação do vídeo em meios de comunicação que não questionaram os abusos sofridos pelos jovens ou rocuraram por maiores informações das vítimas, expostas,em sua opinião de maneira jocosa. A matéria “Dupla caça POKÉMON na frente da delegacia e se dá mal” é usada por eles como exemplo. “Um jornal de duvidosa categoria no Estado acabou se aproveitando desta situação bizarra para fazer uma divulgação oportunista, jocosa, de péssimo gosto e de total irresponsabilidade jornalística e ética, publicando sem nenhum cuidado o vídeo feito por esses marginais”, diz Antônio.

Olhar Direto

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