Opinião

Isso tudo para mim já deu!

eduardoO Brasil é um país desenvolvido. O Brasil é grande, um gigante adormecido. Eternamente gigante, eternamente adormecido. O Brasil está no topo das garantias sociais. Bolsa família, bolsa alimentação, bolsa escola. O Brasil é o país das subvenções: seguro-desemprego, licença-maternidade, licença-paternidade, licença-prêmio. Subvenciona-se tudo: cinema, teatro, ônibus, alimentação. O Brasil é o país das verbas indenizatórias. As autoridades, por exemplo, deitam e rolam em auxílios: moradia, paletó, transporte, mudança, é tanto auxílio que o extra fica maior que o salário.

No Brasil, as minorias são respeitadas e as filas de banco, filas de avião, filas de cartório obedecem prioridades. Velhos, crianças, mulheres grávidas e, claro, portadores de cartão de crédito ouro, black, platinium.

O vestibular, o concurso, o acesso ao sacrossanto emprego público – tudo tem vaga reserva: afrodescendentes, portadores de necessidades especiais, estudantes de ensino público. O Brasil é o país das quotas, da justiça social: negros, pardos, índios, mamelucos, cafuzos, mulatos, ‘quase brancos’. O Brasil é o país dos feriados. Cívicos, religiosos, de consciência social, sexual, racial.

Há o dia de Zumbi, o dia do Evangélico, o dia da Padroeira, mais as emendas de sexta-feira que não são feriados, mas fazem a festa de muita gente. O Brasil sabe tratar os diferentes: Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto do Idoso, Estatuto do Índio, Estatuto do Torcedor, Estatuto dos Refugiados.

Há leis para tudo: desarmamento, tortura, abuso de autoridade, leis que pretendem regular até mesmo o que é família. É muita proteção, muita garantia, muita assistência. O Brasil é um país que quer proteger tudo, mas não protege nada. Por aqui, ninguém nem cogita entregar a vara e ensinar a pescar o peixe. O país é um enorme porto onde o governo entrega o peixe limpo e sem espinhas. O que falta ao Brasil é um detalhe: dinheiro. Falta grana para sustentar tudo isso. Não há almoço de graça e quem paga a conta da preferência, da exceção, da prioridade, das bolsas – somos eu, você e todo o resto.

Para que a meia-entrada seja praticada, alguém tem que pagar mais. Para que as vagas sejam garantidas, alguém tem que ficar de fora. Para que as indenizações sejam pagas, alguém precisa pagar imposto. O dinheiro público, por incrível que pareça, é nosso. O Brasil, desculpem os mais sensíveis, é pobre.

Isso mesmo, simples assim, sem afetação. Não somos a Suécia, não somos a Noruega e nem tampouco a Dinamarca. Mas queremos ser grandes. Pior: acreditamos que já somos grandes. Pior ainda: não queremos copiar as fórmulas pelas quais esses países realmente ricos se tornaram o que são. E a pseudograndeza começa por nos sentirmos grandes e nos acharmos ricos, um delírio produzido pelo mofo marxista que enverniza essa geração que nos governa e nos rouba. O Brasil é um país de homens e mulheres oxigenados, cujas mechas são tão falsas como a riqueza. Queremos ser o que não somos, usando toneladas de silicone.

O Brasil é fake… É falso o balanço contábil do governo, falsas as contas públicas, falsas são as pesquisas de desempenho e produtividade. Não somos protagonistas de nada: estamos nos desindustrializando, ao passo em que nos orgulhamos por fomentar um imenso celeiro sem valor agregado. Alguém precisa avisar aos políticos inconsequentes que não há quotas do zero, não há prioridades no inferno, não há preferências na pobreza.

O Brasil deve trabalhar, deve crescer, deve se sacrificar. Somente com o trabalho e com a riqueza acumulada é que nos permitiremos o subsídio – um luxo que ninguém utilizou enquanto era pobre. Isso leva tempo, décadas, gerações. Qualquer manobra para gerar desenvolvimento pulando etapas é uma farsa, uma receita de populismo bronzeado latino-americano. O resto é uma baba intelectualoide que espuma da boca dos burgueses envergonhados que, de Miami ou de Paris, curtem Bakunin com champanhe e discutem Gramsci com caviar. É muita hipocrisia às nossas custas. Isso tudo para mim já deu!

*EDUARDO MAHON é advogado. 

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