Marcos Assunção bate repórter em desafio e admite encerrar a carreira neste ano
Quem viu, viu. Quem não viu, possivelmente só terá até o fim do ano para ver. Considerado um dos mais perigosos cobradores de falta do Brasil nos últimos anos, o volante Marcos Assunção, 37 anos, não esconde que 2013 será o último da carreira. O volante admite que está ficando cansado do futebol.
Isso não significa que Assunção esteja infeliz no Santos, clube para o qual retornou em janeiro após quase 14 anos, ou decepcionado com as 20 temporadas dentro das quatro linhas, dez delas na Europa. Muito pelo contrário.
– Eu sou abençoado. Tenho uma carreira consolidada. Posso dizer que joguei com e contra os melhores. Eu não me arrependo de ter vindo para o Santos. Sou santista, meus tios e primos são santistas… Estou muito feliz. É o time que eu amo desde pequeno.
De bom humor, Assunção aceitou uma brincadeira do GLOBOESPORTE.COM. A missão? Ver quem acertaria mais vezes uma cobrança de falta no travessão de um dos gols do CT Rei Pelé, em Santos. O adversário foi o repórter Alexandre Lopes – que, como era de se esperar, não teve chances contra o camisa 20.
O volante venceu por uma bola a zero, e não perdeu a oportunidade até de tirar uma onda do rival que, em uma das cobranças, arrancou um tufo de grama do campo. Antes disso, no entanto, o papo foi sério. Durante quase 15 minutos, Assunção falou sobre a rotina de subir e descer a Serra do Mar diariamente (ele mora em Caieiras, município da Grande São Paulo, a cerca de 110 km de Santos), o momento que vive em sua segunda passagem pelo Alvinegro e as mágoas de ex-dirigentes do Palmeiras, clube que defendeu por dois anos e meio e do qual saiu em janeiro.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista
Para começar, como é o Marcos Assunção fora de campo?
Marcos Assunção é amigo, gente boa, parceiro… Um cara que gosta de estar com os amigos e a família o tempo todo. Só me distancio quando tem jogo ou treino. Fora isso, eu estou sempre em Caieiras com eles (família).
Como é essa rotina de subir e descer a Serra do Mar todo dia, para morar em Caieiras e treinar em Santos? Por que essa opção?
Não é que eu fiz uma opção… Eu sou de lá. E depois que a gente tem filhos e esposa não manda em mais nada. Quem manda são eles (risos). Eu já tinha pagado o colégio das crianças. A minha filha, Nicole, tem nove anos e estuda com as mesmas amigas há muito tempo, e não quis mudar. Então, para não ficar aqui (em Santos) sozinho, prefiro subir e descer. Uso o Rodoanel e a Serra (do Mar), faço o caminho em uma hora e meia, não tem trânsito.
Falando de futebol, quais foram os maiores craques com quem você já atuou?
Teve muita gente… Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Edmundo, Romário, Zidane, Del Piero, Rivaldo, Amoroso, Denílson, Zé Roberto… Eu sou abençoado. Tenho uma carreira consolidada. Posso dizer que joguei com e contra os melhores. Minha carreira está chegando ao fim, mas gostei dela, da minha trajetória no futebol, de ter jogado com e contra grandes jogadores, atuado por grandes clubes, ter chegado à seleção brasileira… Sou um cara realizado no futebol. Poucos jogadores conseguem fazer o que fiz, ficar tanto tempo fora do Brasil (dez anos) e fazer amigos.
Para ter a eficiência que você tem nas cobranças de falta, há alguma espécie de ritual antes de bater na bola?
Cada jogador tem um modo de bater na bola, um jeito de bater faltas. Muitos jogadores colocam o bico da bola para cima, para o lado… Eu coloco para baixo. Alguns tomam muita distância (para chutar), eu dou três passos para trás só e chuto. Então, não tem muito ritual. O negócio é treino. E eu treino muito, sempre treinei, desde quando comecei no Rio Branco (de Americana). Às vezes você treina muito e, no jogo, não acontece nenhuma (falta). Mas, se acontece, você tem a chance de fazer seu time conseguir a vitória.
O Marcos Senna, seu primo, está hoje no futebol dos Estados Unidos. Nessa reta final da carreira, gostaria de jogar ao lado dele?
Jogar ao lado não sei, mas eu até gostaria de jogar nos Estados Unidos. Antes tinha mais vontade, mas a gente sabe que está chegando meu final. Já fiz 37 anos e vou te falar a verdade: já estou ficando cansado.Se fosse pensar por hoje, no final do ano eu paro. São 20 anos no futebol, muita coisa passou nessa minha carreira. Essa vontade (de jogar) está acabando. Não sei o que farei depois, mas acho que vou parar.
Foram duas temporadas e meia no Palmeiras, um clube com o qual você também se identificou bastante. Ficou alguma mágoa pela forma como você acabou saindo do clube?
Com o clube, a torcida e os companheiros, não. Existe mágoa com pessoas que deixaram o comando do Palmeiras, que prometeram coisas e não cumpriram. Eu tentei ser o mais honesto possível, mas no fim acho que não foram. Isso é que magoa no futebol. Minha saída foi por isso. Graças a Deus, tenho amizades grandes lá. Funcionários me ligam, jogadores me ligam, torcedores também. Tenho boa relação com todos e um carinho enorme pela torcida e pelo clube. Torço por eles, acompanho a trajetória, quero que o Palmeiras suba. Um time com a torcida que o Palmeiras tem não pode ficar na segunda divisão. Com a campanha que estão fazendo, com certeza, vão subir.
Você atuou pouco nesse retorno ao Santos, embora tenha sido titular em algumas das últimas partidas da equipe. Acredita que acertou ao voltar ao clube onde você apareceu para o futebol?
Eu não me arrependo de ter vindo para o Santos. Sou santista desde pequeno, meus tios e primos são santistas… Quando vim para cá da primeira vez (ficou entre 1995 e 1997) foi uma satisfação, uma alegria enorme. O Santos tem um grupo de jogadores maravilhoso, o ambiente é muito bom. Isso é fundamental. Quanto a estar jogando ou não, eu jamais fiz polêmica. Fiquei um tempo sem jogar, então é normal que o jogador fique chateado, mas jamais fiz polêmica. Penso o seguinte: quando o treinador te coloca pra jogar, ele não dá explicação de por que está te colocando. Quando ele te tira, não tem que dar explicação também. É decisão dele. O treinador tem de ver o que é melhor para o time. Estou muito feliz no Santos. É o time que eu amo desde pequeno.
Globo Esporte