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Muricy e a base: treinador acumula conflitos com garotos no São Paulo

A fama de Muricy Ramalho de não ter muito apreço por jogadores vindos das categorias de base ganhou ainda mais força após o empate em 1 a 1 com o Corinthians, domingo, em Barueri. Segundos depois do apito final, o treinador adentrou ao gramado e disparou contra o meia Boschilia, de 18 anos, considerado uma das grandes apostas do Tricolor para os próximos anos.

A justificativa do treinador foi de que o armador não se posicionou corretamente pelo esquerdo do ataque nos minutos finais. Mais que isso, estava pela direita, embolando o setor composto pelo colombiano Pabón. Aos berros e gesticulando, Muricy cobrou atenção e lembrou que o jogador estava no elenco profissional e não era mais um “juvenil”.

A revolta continuou nos vestiários. Ainda bastante irritado com o que para ele foi uma falha grave, o treinador voltou a chamar a atenção de Boschilia, que ouviu tudo sem responder. Pessoas próximas garantem que o garoto não se abalou com a ira do comandante.

– Aqui não é o juvenil ou amador. É profissional. Quando você manda um cara fazer uma função, tem de fazer. Tomamos o gol por essa função. Ele não está em Cotia, está no CT da Barra Funda. Aqui é muito grande. Não pode entrar tão desligado – disse o treinador, em entrevista coletiva.

A postura de Paulo Henrique Ganso ainda no gramado mostra que nem todo mundo no clube é favorável às atitudes de Muricy. Assim que o técnico começou a esbravejar no campo contra o garoto, o camisa 10 os separou rapidamente por não considerar aquele o lugar ideal para isso.

– O Boschilia é um menino de muita qualidade, mas é garoto. Ele vai aprender. Tirei o Muricy para dar a bronca no vestiário – disse Ganso.

Ademilson também já sofreu com a fúria do treinador. No ano passado, ao errar uma cobrança de falta nos minutos finais do jogo contra o Criciúma, em Santa Catarina, o atacante ouviu duras críticas no campo e nos vestiários. Segundo relatos, teria até chorado. Já em 2014, depois de o jogador fazer um belo gol diante do Botafogo-SP, pelo Paulistão, o técnico disse que ele necessitava melhorar bastante nas finalizações em virtude de outras chances perdidas.

Na semana passada, Muricy acabou também com qualquer euforia envolvendo o zagueiro Lucão. O jogador teve uma atuação regular e marcou um dos gols da vitória sobre o CRB, pela Copa do Brasil. Na entrevista coletiva, porém, o comandante disse que ele sequer seria relacionado para o clássico por ser pouco experiente.

Vale lembrar que Muricy foi o responsável pelo lateral-direito Auro, ainda sem oportunidades, o meia Boschilia e o atacante Ewandro serem providos após a Copa São Paulo. O último deles, aliás, entrou em algumas partidas, mas perdeu espaço com as contratações de Pabón e Alexandre Pato. Hoje, sequer aparece no banco.

Os problemas do técnico com a base do São Paulo começaram durante a passagem vitoriosa, de 2006 a 2009. Naquela ocasião, até jogadores que atuaram bastante com ele tiveram conflitos logo que chegaram ao elenco profissional.

Foram os casos de Breno e Hernanes. Muricy reclamava que o zagueiro exagerava nos lances de habilidade no setor defensivo. Com o meio-campista, a bronca era por ele não ter uma posição fixa – jogou como lateral, armador e volante no Sandro André. Ambos acabaram campeões e idolatrados pela torcida são-paulina.

Outros sequer tiveram chances. O meia Sérgio Mota, considerado por muitos “o novo Kaká”, praticamente não atuou e acabou não confirmando a expectativa da direção. O também meia Oscar viveu situação semelhante, aparecendo em raras ocasiões. Depois de uma briga judicial, acabou no Internacional e hoje brilha no Chelsea e na seleção brasileira (vai para Copa do Mundo).

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