Opinião

O fim da política

O Estado tem suas tetas tomadas por uma pequena casta: parentes e financiadores de campanhas

LOUREMBERGUE ALVESA política tem como finalidade última o salvaguardar a vida das pessoas em seu sentido mais amplo. Isto é, possibilitar a elas a busca de seus objetivos, em paz e tranquilidade.

Fundamental, portanto, a figura do Estado – responsável por essa garantia. Garantia assegurada pela Constituição Federal e pelas legislações vigentes.

Estas tiverem e têm a participação direta dos parlamentares – os chamados representantes da população – os quais contam com as melhores condições de trabalho, e eles próprios são sempre cuidadosos no que se refere à situação para o desempenho de suas funções.

Pensando nisso, aliás, a Mesa Diretora da Câmara Federal aprovou, na quarta-feira (25/02), a liberação do uso do dinheiro público para transportar maridos e mulheres dos parlamentares de suas cidades de origens até Brasília.

Com essa decisão, a Casa acaba com a restrição da utilização da cota de passagens, desde 2009, apenas a deputados e assessores em viagens decorrentes do exercício do mandato.

Essa liberação também para os cônjuges, cabe dizer, foi uma reivindicação de um grupo de esposas de deputados federais durante a campanha do deputado Eduardo Cunha (PMDB) para a presidência da Câmara Federal.

A partir daí, por outro lado, a sociedade identifica a comprovação de uma forma de compra e venda de votos dentro do Legislativo, enquanto o eleitorado passa a perceber que votou nos candidatos eleitos, mas, estranhamente, igualmente elegeu suas esposas e maridos.

Esse quadro de estranheza se amplia, e isso é bom acrescentar, ao se perceber que os familiares dos parlamentares têm atendimento médico gratuito no departamento médico da Câmara Federal.
Privilégios que estão longe do alcance da maioria dos brasileiros.

Esta maioria, quando adoentada, amontoa-se nos corredores do SUS, policlínicas e prontos socorros.

E, igualmente, é quase sempre forçada a ficar em suas casas no período de férias, pois o conteúdo de suas contas bancárias está distante do suficiente para bancar passagens aéreas para lugar algum.

Bem mais em época de crises. Crises bastantes claras no momento vivido atualmente, onde cresce o número do desemprego como uma das consequências do descontrole da inflação.

Situação muitíssimo diferente, porém, das mulheres e dos maridos dos parlamentares.

Os cônjuges destes, curiosamente, voltarão a contar com o dinheiro publico para pagarem suas passagens com destino à Brasília. Daí se livrando de parte das consequências da alta da inflação.

Isso significa, em outras palavras, que os agentes políticos estão desviando totalmente a finalidade última da política, assim como também desnorteiam a função do Estado.

Este Estado, como tudo indica, tem suas tetas tomadas por uma pequena casta de brasileiros – ocupantes de cargos, parentes destes e por quem lhes bancam as campanhas.

O que é muitíssimo grave.

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista político em Cuiabá.
lou.alves@uol.com.br

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