Política viciada
Ao abrirmos as portas para à política moderna praticada nos Municípios, Estados e a nível Federal, deparamos com as próximas eleições. E ao adentrar no âmago da disputa pelo poder, antevejo um horizonte sombrio habitando os ares tupiniquins. Uma escalada de vícios políticos ainda prevalece. É como se os candidatos a cargos públicos vedassem os olhos para as manifestações das ruas e as mudanças desejadas.
A velha política, da esperteza, do imediatismo, do poder a qualquer custo, tanto de políticos do governo e oposição, nos introduz no terreno fecundo da dúvida. Remonta um modelo político viciado que parece não ter fim. Uma prática que se repete ao longo de anos, sem perspectiva de melhoras. São gestos, arranjos, mudanças de partido a toda hora, composições políticas por conveniência. Tudo com um único objetivo: projeto de poder.
O palco, onde atores e espectadores debatem temas importantes para o país, se traduz num território entre a fantasia e a realidade, sendo ambas as coisas ao mesmo tempo e não sendo nenhuma das duas.
Assistimos, por exemplo, a demagogia prevalecer em um longo governo “socialista” que amargou uma crise sem precedentes. Uma obra monolítica, sectária e dogmática que nos levou ao mundo das trevas, caminho das certezas maniqueístas. Um governo com um belo discurso, recheado de ideal, mas que na prática, foi incompetente e corrupto. A herança é cruel: 12 milhões de desempregados, 15 milhões de analfabetos, 200 bilhões de rombo na economia, saúde e educação pública entre as piores do mundo. Um governo que não soube implantar um projeto de país. Que não introduziu, dentre outras coisas, a criação tecnológica, chips, software, como fez a Coreia, Japão e China. Ao invés disso, o sistema educacional, de péssima qualidade, inseriu na sociedade que ter diploma é o mais importante. Um Brasil subdesenvolvido com milhões de analfabetos funcionais, que continua malvisto lá fora, que se contentou, simplesmente, em montar carros, aparelhos eletrônicos e exportar matéria-prima. E não, produzir tecnologia.
A preocupação com o meio ambiente e a saúde da população é nenhuma, mercê de um modelo econômico que prioriza o automóvel, o caminhão, o asfalto, todos agentes altamente poluidores, que causa graves doenças, inclusive o câncer, além de gerar um trânsito assassino. O tratamento de esgoto, por ser uma obra que não aparece, deixa de ser prioridade. Para esse modelo econômico perverso, o que interessa é construir mais hospitais do que evitar que as pessoas fiquem doentes. O VLT de Cuiabá, por exemplo, parado há mais de quatro anos é um exemplo do atraso, da velha política, sem visão de longo prazo. De nada adianta, o VLT ser um transporte ecologicamente correto, rápido e eficiente. Como também, as ferrovias, totalmente esquecidas num país que deveria ser prioridade, pelas dimensões continentais.
Faltam políticos movidos pelo zelo, pela imaginação, pelo entusiasmo de servir e não ser servido. Que não pense na próxima eleição, mas sim na próxima geração. Políticos eivados de altruísmo, movidos a partir da combinação de experiência concreta no trato da coisa pública com a observação aguda do processo político.
Estou falando no surgimento do novo respeito pela dignidade do homem. E não, simplesmente, transformar esse respeito em porta-voz de um momento, criando uma idolatria pela figura de um herói, como paradigma a seguir e mesmo imitar.
O que precisamos é enxertar nas mentes humanas o discernimento para reconhecer o bem e o mal naquilo que se faz ou diz, identificar as obras boas e más de um governo, corrigindo algumas e incentivando outras. Mas, se mantendo sempre ao lado do bem. Um cuidado especial com os aduladores, no meu entender, uma verdadeira praga que cerca os políticos.
* VICENTE VUOLO é economista, cientista político e analista legislativo do Senado Federal
vicente.vuolo10@gmail.com